A VIDA INVISÍVEL

Filme brasileiro com qualidade “de competição”, livremente inspirado em livro escrito em 2016 pela jornalista e escritora Martha Batalha (A vida invisível de Eurídice Brandão”). Ganhou o prêmio “Um certo olhar” em Cannes e competiu à vaga do Oscar 2020 de Melhor Filme Estrangeiro, como representante do Brasil. Foi dirigido por Karim Aïnouz (Madame Satã, Praia do Futuro…) e toda a produção e o elenco são ótimos, com destaque para a notável atuação das duas protagonistas, Carol Duarte (Eurídice) e Júlia Stockler (Ana Margarida ou Guida) –são tão boas que se tem às vezes que prestar atenção para não confundir uma com a outra- e para a sempre impressionante atriz Fernanda Montenegro: apesar de participar de apenas pequena parte da história (não se pode negar que mesmo assim um belo chamativo para a Academia), sua atuação chama a atenção e é de fato absolutamente marcante/comovente. Talvez se possa apenas discutir a direção de arte, pois o tratamento de cores etc nos remete sempre aos tempos atuais e não à época enfocada. O filme é um drama com “D” (estilo melodrama, mas aqui no bom sentido), totalmente inadequado a menores, e que se centra na relação de duas irmãs, Eurídice e Guida em meio à sociedade (bastante patriarcal) dos anos 50, no Rio de Janeiro: em uma das cenas, uma personagem diz que a mãe é “a sombra do pai”; em outra, quando uma vizinha sabe que nasceu menino e não menina, simplesmente diz: “sorte dele”. A história é forte, tem momentos bastante crus (inclusive em algumas cenas de sexo) e não-convencionais e exige do espectador que saiba apreciar dramas intensos. Como recompensa, obterá além da qualidade, diversas emoções, de variadas formas e intensidades, com belas performances. Gosto à parte, de todo modo, mais uma prova da atual grandeza (possível) do cinema brasileiro.  8,6