VIOLÊNCIA GRATUITA (FUNNY GAMES)

Inicialmente cabe uma advertência muito séria sobre este filme alemão de 1997 (e que naquele ano concorreu no Festival de Cannes): ele é fortíssimo, pesadíssimo e, pois, absolutamente desaconselhável para pessoas sensíveis à violência e ao terror psicológico. É um dos filmes mais perturbadores jamais feitos, porque trata de uma realidade que não está longe de nós e que é mostrada com tintas fortes, graças ao elenco e à competente direção de Michael Haneke, que tem na bagagem obras como, por exemplo, A fita branca, A professora de piano e Amor – e que, no caso, por questão de estilo, poupa o espectador da violência explícita, o que funciona muitíssimo bem com a confirmação da lição do mestre Hitchcock, de que “o medo maior está naquilo que não vemos!” E aqui o terror psicológico ocorre com proverbial intensidade. E o roteiro também surpreende, na medida em que tira o espectador do previsível (inclusive quebrando a chamada quarta parede e ainda utilizando um recurso mágico, non sense) e as interpretações são tão realistas que facilmente nos colocamos no meio da ação, para com isso ampliarmos o suspense e deixar a inquietação e a angústia à flor da pele. Como destaque, o ator Arno Frisch tem uma atuação muito acima da média, mas Susanne Lothar entrega uma performance simplesmente avassaladora. Magnífica a atriz e que por esse dificílimo papel certamente mereceria um Oscar. O filme não poupa o espectador de nenhuma crueldade (embora não explicite) e vê-lo até o fim, com seu realismo pungente, é uma experiência difícil e para poucos: para alguns poderá até mesmo ser insuportável chegar até o final. E embora parte do público tenha rejeitado (e até detestado) o filme, deve ser reconhecida sua inquestionável qualidade como obra cinematográfica e sua importância como veículo de alerta ou denúncia, de que o mal existe e pode, sim, estar à espreita. E no fim ninguém terá outro resultado senão os efeitos do caráter perturbador da obra e a possibilidade de algumas reflexões a esse respeito. Sobre a última cena e a polêmica que gerou (atenção: um leve spoiler), resta dizer que seria  fantasioso ao extremo se esperar de um psicopata outro comportamento, que não fosse o de associar a insensibilidade com a maldade e a perversidade. 8,8

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