CENA DE ACUSADOS (UM TRAIDOR ENTRE NÓS – MARIE- OCTOBRE)

Muitos anos após a Segunda Guerra, antigos ex-combatentes da resistência francesa se reúnem, tanto homenageando o líder Castille, que na época foi morto pelos nazistas, quanto rememorando os fatos que indicam ter havido um traidor entre eles e que os denunciou para a Gestapo. Assim, uma reunião aparentemente resgatadora dos tempos difíceis e de memória e amizade, vai se transformar em uma expiação de pecados e na busca da verdade, em novo e inesperado contexto. Este filme de 1959 tem uma bela fotografia e um ótimo ritmo, além de alguns detalhes muito interessantes no roteiro, que vai aumentando a tensão entre os personagens, na medida em que cada um se expõe e sua personalidade se destaca, revelando histórias que são aceitas ou discutidas, em razão de sua verossimilhança. As desconfianças surgem, se estabelecem e em meio à exposição de fatos e álibis, surgem as suspeitas e o espectador vai ouvindo as diversas versões – pois todos são colocados contra a parede e têm a chance de narrar os fatos segundo seu próprio ponto de vista – e construindo suas suposições, como em um jogo de detetive. Tudo poderia ser totalmente harmônico, se não fosse uma grave falha no roteiro (indo para a parte final) e que o compromete parcialmente: em tese poderia até passar despercebido o fato, mas quem estiver sintonizado perceberá e se incomodará, porque é algo bastante grave, causando uma ruptura argumentativa. Trata-se do resultado da apuração de votos, que jamais poderia ter sido o apontado, impossível dentro da lógica: e a partir dali o absurdo é aceito como um fato normal, quebrando em parte o fluente desenvolvimento da história. Mas, seja como for, como o conjunto todo (inclusive o elenco) é agradável e bem construído, pode-se até passar por cima da falha, em nome da qualidade geral, e no final das contas o filme acaba sendo um bom entretenimento. Dirigido por Julien Duvivier e estrelado por Danielle Darrieux e Lino Ventura, entre outros. 8,2