MUD
Um filme simples, com roteiro nada complexo, mas desenvolvido de um modo extremamente competente e que acaba tocando em temas sensíveis e com invulgar sensibilidade. Muito acima da média e um filme que parece à primeira vista ser juvenil, mas acaba sendo universal, um belo filme para todas as idades. Direção, elenco, clima…um drama com aventuras, mistério, protagonizado basicamente por dois garotos (Tye Sheridan e Jacob Lofland) extremamente talentosos e com a presença competente de Mattew McConaughey, Sam Shepard e Reese Whiterspoon. O andamento lento é adequado ao local, à cultura e aos costumes dos ribeirinhos, pontificando uma trilha sonora estilo country, igualmente equilibrada com todos os elementos do filme. O destaque maior é a atuação dos dois meninos (já virando adultos ou pelo menos sendo obrigados a virar, pelas contingências da própria vida), mas as paisagens, a música, o andamento do filme, também nos conduzem à vida que ali visceja…E vamos acompanhando aquele homem estranho e misterioso, sob os olhos de jovens com alguma vivência provocada, mas ainda com a alma semi-intacta da inocência, e não sabemos para onde vamos ser levados, se o personagem traz uma história verdadeira ou é mais uma das ilusões que se levará como peso ou bagagem, após a dor da decepção…nesse caso, temos contato com a visão individual das coisas e os dilemas aparecem, inclusive morais…Mas paralelamente a esse enfoque há outros dramas acontecendo, em nível familiar, muito bem desenvolvidos também, com um realismo admirável, emoldurado pelo ótimo elenco. Outro destaque do filme, junto com Shepard, é o veterano ator Joe Don Baker (Rebeldia Indomável, de 1967). Detalhe sobre Matthew McConaughey: na crítica do filme Killer Joe (ótimo !) eu já havia observado que esse ator subiu muito na minha apreciação ultimamente: talvez eu é que não o tenha notado antes, mas hoje eu o tenho como realmente um ator excelente, no filme podendo ser definido como ótimo personagem que interpreta (até com dentes tortos e quebrados…), pela frase dita em um momento de vitória: “Às vezes o sol brilha até em c…de cachorro, hein?”. Muito boa! De todo modo, um filme invulgarmente rico, que inclusive contém uma cena muito especial sobre o choque da realidade sobre as ilusões amorosas da adolescência (a cena quando ela diz “você só tem 14 anos” é chocante e bela ao mesmo tempo) – isso significa “crescimento”, o “rito de passagem”…: nesse ponto, nos últimos momentos do filme, a atuação de Ellis é espetacular! A gente sente que as cicatrizes que se materializam, a duras penas, são necessárias e só têm a servir a seus donos…Pra mim, um diretor desses (Jeff Nichols) é que mereceria um Oscar. Primoroso! A cena dos dois no final, na imensidão da paisagem – infinita, abrindo novas possibilidades – é linda! Em síntese: um filmaço (para quem acompanha o IMDB, o filme tem a média 7,7). 9,0