UM ROSTO NA MULTIDÃO (A FACE IN THE CROWD)
Este filme, de 1957 e dirigido pelo grande Elia Kazan (A luz é para todos, Vidas amargas, Sindicato de ladrões, Terra de um sonho distante etc etc) tem um roteiro muito parecido com o de A grande ilusão (All the king´s men), que ganhou o Oscar em 1950. Mas e daí? Independentemente disso gostei muito dele e reconheci grandes méritos em vários sentidos, a ponto de julgar injustificável sua total ausência no Oscar de 1958. Nem diretor, nem ator foram indicados, apesar da performance espetacular de Andy Griffith, como o inesquecível Lonesome Rhodes -o ator, em sua carreira, foi ator, diretor, produtor, cantor gospel, escritor, tinha um programa de TV com o seu nome e recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade em 2005 do Presidente George W. Bush. E até Patrícia Neal, pela ótima interpretação, poderia ter sido lembrada, sem nenhuma injustiça. Ou Walter Mattau, que faz um belo papel (o filme tem ainda, entre outros, Anthony Franciosa e a bela Lee Remick, praticamente estreando no cinema com seus 22 anos e cinturinha de ampulheta). Talvez o único fato que justifique o filme não ter sido indicado em sequer uma categoria do Oscar seja os problemas da Indústria cinematográfica e de algumas pessoas com Elia Kazan, que por interesses pessoais ou ideológicos (seus amigos afirmam que Kazan agiu com total lisura e não como um delator ou para prejudicar colegas) acabou denunciado vários colegas de cinema, comunistas, ao Comitê de Investigações de Atividades Anti-Americanas. A esse respeito, Orson Welles teria dito: ele trocou a alma por uma piscina. Oscars à parte, trata-se de um filme que discute a questão da fama e do poder e sua vinculação com a corrupção e a vaidade. A certa altura, Marcia (personagem de Patricia Neal) diz a Lonesome Rhodes: você está cada vez mais parecido com aquilo que costumava atacar! O fato é que o filme constrói um fenômeno de popularidade, com todo o clima de sucesso, fãs histéricas etc e mostra todos os passos dessa construção e do percurso do personagem, no caso Lonesome Rhodes, à medida em que vai se tornando poderoso e responsável pelos altos índices de popularidade de suas apresentações. Discutem-se então várias temáticas, entre elas a dos fenômenos de massa e a manipulação desse público, a criação de falsos ídolos e toda a política envolvida, as camadas de fantasia criadas para vender os produtos, mas também a necessária relação do triângulo corrupção-poder-vaidade (“meu pecado preferido”, segundo o personagem de Al Pacino no filme “O advogado do diabo”) etc. O final não é muito criativo, embora seja totalmente coerente com o contexto e com o próprio patológico do personagem, que nos faz lembrar que ninguém é insubstituível e também de um famoso ditado latino: sic transiti gloria mundi (a glória do mundo é transitória). 8,8