SANGUE DEL MIO SANGUE
Este filme italiano de 2015 é surpreendente, inclusive porque contém duas partes totalmente distintas e não é fácil fazer conexões entre elas, tornando o fato um estimulante desafio. A primeira parte envolve um monastério e a igreja católica das práticas medievais, a inquisição investigando o suposto pacto de Benedetta com o demônio e sua confissão a respeito desse fato e da sedução de um sacerdote e que o levou ao suicídio. A presença do irmão gêmeo do suicida no monastério – e que também desencadeia a luxúria das irmãs que o hospedem – se deve ao fato de que a confissão redimiria o pecado do suicídio e abriria as portas celestiais, mas a semelhança com o irmão acaba perturbando Benedetta (que nele vê o antigo amante), embora a resistência pareça inflexível quanto a confessar qualquer pecado. De todo modo, à história é dado um desfecho, selado o destino da “bruxa, após inúmeros “testes” de inocência ou culpa. A segunda parte do filme aparentemente nenhuma relação tem com a primeira, exceto por envolver o mesmo e agora já decadente monastério e um estranho e misterioso morador, que se vê repentinamente na iminência de deixar o local, caso seja comprado por um milionário interessado. E alguns dramas interessantes se desenrolam a partir desse personagem (que pertence a uma espécie de “conselho”, envolvendo pessoas representativas da comunidade), ocorrendo severa mudança no tom do filme e passando a haver pungentes críticas sociais (à internet etc.), reveladas principalmente na conversa com o dentista. O velho é um personagem soturno e se de fato representa um vampiro, como dizem alguns críticos, o gênero comédia passa a ficar perfeitamente definido, porque se trataria de um vampiro com os problemas físicos da velhice – embora reconheça ainda ter atração pela jovem Elena – e que faria tratamento dentário (especificamente de seu canino!)…Mas o fascínio maior dessa segunda parte – interrompida com mais uma inserção de cenas do passado, para que tenha ele, afinal, seu epílogo (com maior mistério e surpresa ainda!!!) – é a busca de conexões com a primeira parte. São vários pontos de interrogação. Que aqui funcionam como meritórios, em mais um trabalho marcante do polêmico roteirista e diretor Marco Bellocchio (Diabo no corpo, O processo do desejo, De punhos cerrados, Bom dia, noite…). 8,5