PECADORES (SINNERS)

Este filme me foi recomendado por um amigo e eu consegui um feito não tão fácil de alcançar: vi o filme sem saber absolutamente nada sobre ele, sem ler sinopses e sem sequer olhar o cartaz. Se pudesse, recomendaria o mesmo para quem gosta de surpresas. Porque o filme, a certas alturas, dá uma reviravolta, uma guinada que o faz inclusive mudar de gênero, causando algum desconforto ou até mesmo apreciável perplexidade. É um fato inesperado, abrupto e talvez não funcione bem para muita gente, embora também é certo que muitos poderão adorar a simbiose e gostar muito do filme. O que parece ser caso da maioria. No meu caso, ficou tudo meio esquisito, meio estranho, não gostei muito da mistura, embora reconheça os méritos do filme, que incluem seu ineditismo, o interesse dos temas sociais e do inicial e o amplo controle sobre a obra, pelo diretor e também roteirista Ryan Coogler (Creed, Pantera Negra, Judas e o Messias negro): porque independentemente de qualquer coisa, o que se sente é que é tudo tem um propósito, que se trata de um trabalho muito bem cuidado e bem orquestrado, com um objetivo que é totalmente alcançado. Se o filme alterna momentos de cinema classe A com classe B, de bom gosto com mau gosto, aí o debate é outro. No final das contas, no mínimo pode ser encarado como uma boa diversão e como fruto de uma direção de quem conhece o cinema (vide o currículo do cineasta em questão). E quem nada souber do que vai ocorrer na tela, certamente ficará muito mais atento e desfrutará com mais sabor do clima todo, vendo o lado místico se agigantar por caminhos totalmente imprevistos. A temática inicial é muito interessante, repleta de mistério e daquele clima sobrenatural dos ritos e das religiões da população negra do sul dos Estados Unidos dos anos 30 (Mississipi), tendo como foco central, neste caso, o poder da música, inclusive e principalmente sob um ponto de vista bastante singular; trata de gerações, de culturas e costumes, do poder, dos conflitos, do racismo, de liberdade e da sobrevivência…Há muito blues para nos entreter e encantar e podemos apreciar sons, alegria e dança. Embora também alguns momentos assustadores. A súbita mudança de ares fica a cargo do gosto de cada um (sem spoiler). O elenco tem, entre outros, o conhecido ator Michael B. Jordan e o diretor Coogler sem dúvidas traz algo original e que, pensando bem, no final das contas não constrói um absurdo assim tão grande, considerados os fatos todos, a época e a atmosfera toda de que se reveste a história. 8,0

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