PARTHENOPE – OS AMORES DE NÁPOLES (PARTHENOPE)

Não é tarefa fácil para mim fazer a resenha deste novo filme de Paolo Sorrentino (que escreveu, produziu e dirigiu), porque o achei profundo, poético, belíssimo, mas as sensações e emoções se misturam em um complexo emaranhado, onde é fácil faltar habilidade ou sagacidade para descrever tudo o que acontece e que ilumina os olhos e o coração. É daqueles filmes que conservam acesas suas impressões em nossas retinas por muito tempo depois que termina, as quais apenas se desvanecem aos poucos; o que, de outro ângulo, talvez facilite preenchermos várias reticências que vão aparecendo ao longo da história. É daquelas obras que desfilam pensamentos inquietantes, como, por exemplo, o contido na frase “no final, só vai nos restar a ironia”! E cabe dizer que a suposta “falta de unidade” (comentada por alguns críticos pelo fato de as cenas parecerem aleatórias, fragmentadas) jamais poderá aqui ser tida como defeito, pois é meramente questão de estilo, portanto mérito de um diretor mais do que original: inteligente e dotado de extrema competência e sensibilidade (inclusive nos detalhes, nos diálogos e reflexões), até para desafiar temáticas tidas como tabu. O elenco é maravilhoso, mas poucas vezes vi uma atriz concentrar em uma personagem tanta beleza, sensualidade, expressividade e ao mesmo tempo mistério, como a atriz e modelo italiana Celeste Dalla Porta. Ela é perfeita. Mas há aqui também personagens memoráveis como o de John Cheever, desempenhado magnificamente por Gary Oldman, o do bispo desempenhado por Peppe Lanzetta, o do professor Marotta excelentemente interpretado por Silvio Orlando. E ao final a presença bela e reverenciada pelo cinema italiano da veterana atriz Stefania Sandrelli. Imprescindível confirmar que os fãs do cinema de Sorrentino irão adorar o filme, embora alguns que não o sejam possam ser surpreendidos favoravelmente (e virar fãs do diretor quem sabe – seus filmes merecem revisão sempre); mas que muitos poderão ficar meramente insatisfeitos ou decepcionados ou, ainda, chocados com os temas e as cenas a ponto de conceituarem negativamente o filme. De fato, alguns temas são impróprios, proibidos, fortes socialmente falando, mas aqui enfrentados com elegância e em nome da poderosa mensagem humana e filosófica que está exposta ou sugerida em inúmeros pontos do roteiro. Ousado, despudorado, transgressor, tudo isso o filme é. Mas também é lírico e deslumbrante esteticamente. E esse é o Sorrentino absolutamente maduro que nos conduz e maravilha em uma torrente de imagens, pensamentos e misteriosos olhares. Por isso tudo é que o filme, na internet, tem conceitos e críticas que variam de 2 a 5 estrelas! O fato é que, incapacitado de descrever completamente a beleza do que vi, ouvi e li (pelas legendas), resolvi respeitosamente transcrever trecho da estupenda crítica de Caio Coletti (Omelete), como resumo do que senti e também homenagem a ele pela capacidade de conseguir sintetizar tantos e diversos elementos, como eu não poderia fazer: “Você alguma vez já viu o Sol bater no rosto de uma pessoa que você ama, iluminando os cantos menos explorados daquela face, clareando os olhos que se cerram diante da luz, e pensou sobre como é absolutamente divina a beleza daquele ser? Você já romantizou um artista torturado, ficou olhando para a foto naquela orelha de livro (ou, quem sabe, no Google imagens), para aqueles olhos abatidos, aquelas olheiras pronunciadas, aquele cigarro pendendo dos lábios entreabertos, e pensando nas coisas sublimes e tristes e terríveis que passam por aquela cabeça? Você já dançou uma música lenta no fim de uma noitada inacreditável, o último copo de bebida na mão, a emoção daquelas notas e daqueles vocais gritados batendo como nunca bateu antes, os seus companheiros de jornada noturna se transformando em figuras quase míticas e sua afeição por eles se transformando em poesia? Uma garota bonita já te olhou e acenou inesperadamente, te fazendo corar? Eu poderia continuar essa brincadeira por linhas e linhas, parágrafos e parágrafos, porque Paolo Sorrentino talvez não tenha vivido tudo isso – mas tudo isso está em Parthenope, seu novo filme, que estreou em competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024. O maximalismo tipicamente italiano, cujas referências óbvias são Fellini e Bertolucci, já assombrava as obras anteriores do cineasta (JuventudeA Grande Beleza, A Mão de Deus), mas é aqui que Sorrentino o leva às últimas consequências, ao seu potencial mais puro. Cada uma das imagens de Parthenope chega à tela em admiração inadulterada, escapando como que por algum milagre do contínuo desgaste da cultura pop do qual elas são retiradas. Embora tudo aqui, é claro, seja uma reedição (porque tudo é), nada aqui parece velho, porque Sorrentino despe cada uma das camadas de cinismo referencial dessas evocações estéticas e as reapresenta como fins por si só. Parthenope é um filme belo no qual a beleza é todo o ponto, todo o manancial do significado que ele almeja e consegue encontrar. Ao lado de colaboradores recorrentes como a diretora de fotografia Daria D’Antonio, o designer de produção Carmine Guarino e o figurinista Carlo Poggioli, Sorrentino cria um mundo que comporta sensualidade e sabedoria, a vulgaridade da riqueza e da pobreza, a ambiguidade dos carinhos e toques fraternos, o desabamento do sexo e sua sacralidade, a banalidade do tempo e seu domínio absoluto sobre o humano. E, nesse mundo gloriosamente aberto a todas as contradições, ele insere uma narrativa que se revela profundamente pessoal sobre as transformações de uma cidade, as imagens que ela evocou e evoca, a fuga e retorno a ela, sua incapacidade de se afastar da lama inglória da miséria”. Em tempo (extraído do ChatGPT): Parthenope é uma figura mitológica da mitologia grega, associada à cidade de Nápoles, na Itália. Ela era uma das sereias, criaturas marinhas que encantavam os marinheiros com seus cânticos. Parthenope é especialmente famosa por sua ligação com a fundação de Nápoles. Segundo a lenda, Parthenope tentou seduzir Ulisses durante sua viagem, mas foi rejeitada. Após isso, ela se afundou no mar e seu corpo foi levado até as costas da Itália, onde os fundadores de Nápoles encontraram seu cadáver e, em sua memória, nomearam a cidade. Uma obra invulgar, que nos impregna de beleza e melancolia e que faz resplandecer, imortalizando, a magia do cinema. 10,0

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