O GUARDIÃO INVISÍVEL
O cinema espanhol atual dispensa maiores comentários sobre a sua indiscutível qualidade : elenco, diretores e equipe técnica, fotografia, som e em geral os roteiros, que têm sido no mínimo interessantes e bem estruturados. Aqui, trata-se de um filme de suspense, estilo serial killer, dirigido por Fernando González Molina (Palmeiras na neve). Na verdade, o filme é baseado no primeiro livro da Trilogia do Baztán (Baztán é um município espanhol localizado em Navarra, próximo aos Pirineus), escrita pela best seller Dolores Redondo. Os outros dois livros são Legado nos ossos (este também virou filme e já foi lançado pela Netflix) e Oferenda à tempestade. Esta produção tem como méritos principais justamente os elementos que são os naturalmente indissociáveis do gênero: o mistério/suspense e o “clima”. Mas aqui eles realmente são extremamente caprichados, em conluio com as cenas fortes e a palpitante trilha sonora, propiciando momentos de grande tensão. Se a escritora da trilogia tem seu estilo conhecido como “noir”, o filme segue justamente esse rumo: muitas cenas noturnas, muita chuva, intenso e permanente nevoeiro nas florestas, sombras que permeiam perigos iminentes…realmente um ambiente criado com habilidade para propiciar histórias desse estilo e gerar tensão e medo. Nesse ponto, a produção é impecável e nos deixa em alguns momentos até sem pestanejar. Contudo, a par da forma especial descrita, o conteúdo não traz nada de novo, em se tratando de filmes de serial killer. Sente-se falta de algo inovador, revolucionário, que provoque reviravoltas nas expectativas, embora haja uma ou duas surpresas bem interessantes. Uma delas é a relação da protagonista com a mãe, que provavelmente vai explicar –pelo menos em parte- o porquê de em alguns momentos a atuação da detetive não parecer muito convincente. Uma boa diversão, mas para testar os nervos e se deixar mergulhar no mistério e nas sensações todas, porém sem grandes voos de criatividade. 7,8