LES DÉMONS
Um filme não convencional, até porque canadense e falado em francês e dirigido por alguém que não segue os padrões, o que imprime uma certa estranheza em alguns aspectos, como, por exemplo, as longas tomadas (câmera fixada bastante tempo no mesmo objeto: para intensificar o momento e os sentimentos provavelmente), a trilha sonora que em alguns momentos parece inadequada…Não é fácil de ser assistido em alguns segmentos, enquadrando-se, pelo exposto, na categoria dos “filme de arte”. Mas é um trabalho apreciável pela mensagem que passa e até mesmo bastante ousado. Os demônios do título do filme não são entidades diabólicas ou sobrenaturais e sim uma metáfora para os “fantasmas” da infância e da adolescência, dos ritos de passagem. E que possivelmente assombraram, pelo menos em vários aspectos mostrados, vários de nós. Demônios são as brigas dos pais, a exclusão no colégio, o bullying, a incapacidade de compreensão total de várias coisas da vida em função da idade, espiar os adultos, a paixão pela professora, o medo do escuro, de assombração, de pegar uma doença grave, a pedofilia…São horrores que elegem os naturalmente fragilizados física e/ou emocionalmente em razão da idade e do crescimento e o filme trata do tema com bastante densidade, o que muitas vezes incomoda. Claro, isso é uma virtude. Como a harmonia de seu elenco, com destaque para os garotos. Mas, se por um lado nos são mostrados os demônios, pelo outro principalmente em três momentos especiais somos resgatados do pesadelo com a possibilidade de luz e equilíbrio: quando a irmã dialoga com Felix dentro do armário, na brincadeira das crianças no banheiro e finalmente quando todos se divertem na água, nesse caso a música de fundo deixando evidente tratar-se de um momento tanto de alegria, beleza e paz, quanto da absoluta e possível normalidade, o que sugere que apesar de tudo a vida é assim mesmo, repleta de fases de pesadelos, com a escuridão sendo sucedida pela claridade. Concorreu em vários festivais e foi vencedor em 2016 no Festival de cinema de São Francisco e no Titanic International Film Festival, nas categorias de Melhor novo diretor e de de Melhor diretor (Philippe Lesage). 8,4