ESTRADA SEM LEI (THE HIGHTWAY MEN)

Este é um produto a mais da marca Netflix, empresa que fatura mais de 500 milhões de dólares por mês, produzindo e promovendo filmes e séries em profusão, de tal maneira que está praticamente monopolizando o mercado. E é um filme de qualidade, tendo Kevin Costner como seu principal protagonista (no papel de Frank Hamer, o mais famoso dos Texas Rangers) e também produtor executivo. O diretor é John Lee Hancock (Walt nos bastidores de Mary Poppins, Um sonho possível, Um mundo perfeito) e o parceiro de Kevin é Woody Harrelson, que faz o contraponto da seriedade, com algumas “tiradas” a título de alívio cômico (embora eu não goste muito dessas “piadinhas” em filme dito sério). Tem também Kathy Bates, para lembrar que o governo sempre é quem leva a fama, mas aparece pouco. Mas a atração mesmo são os dois “cobras” do elenco, embora a direção seja ótima, oferecendo um filme enxuto e sem excessos: fica claro que a experiência dos ex-Rangers, embora tidos como aposentados, consistia em uma vantagem sobre toda a força policial que estava atrás da famosa dupla de bandidos apaixonados, Bonnie e Clyde, que já viraram filme antes, mas não sob o foco dos perseguidores, com aqui. E assim vemos um filme investigativo, em que uma caça lenta e através dos Estados americanos é deflagrada, mas sem a certeza absoluta de se conseguir emboscar os foragidos, que parecem quase “fantasmas” nos jogos de gato e rato com a polícia. Aqui, felizmente, a ficção se apoia totalmente na realidade, tendo sido feito um ótimo trabalho de pesquisa e de reconstituição de época. Bonnie e Clyde de fato existiram e fizeram o terror da polícia nos idos de 1931 a 1934, quando finalmente foram mortos. E tinham legiões de fãs entre a população (20.000 pessoas foram ao velório de cada um), sendo tidos como uma espécie de Robin Wood, que rouba dos ricos (os Bancos) para vingar os pobres (o povo, roubado pelos Bancos) – aspecto que obviamente aumentava a fama e dificultava a localização da quadrilha.  Algumas características do casal também foram fielmente transpostas para a tela, como o apego à literatura e à poesia de Bonnie, o cigarro fumado por Clyde etc. Para quem sabe em qual Estado americano aconteceu a derrocada final, porém, o filme deixa de ser surpresa no final, mas só nesse ponto e embora já seja fácil imaginar o desenlace dos fatos. Obviamente a história do casal foi um pouco romantizada, porque tudo nos EUA pode virar lenda: todavia, o filme procura mostrar os fatos de modo fidedigno, inclusive exibindo fotos e reportagens autênticos nos créditos finais, para demonstrar a verossimilhança: a carta escrita por Clyde a Henry Ford, elogiando a qualidade do V8 que utilizava, realmente ocorreu. Chocante também é constatar o medo que a dupla inspirou ao longo dos anos e a amplitude atingida pela “lenda”, pela forma em que se deu a morte do casal: pelo número de policiais envolvidos e de balas disparadas, um verdadeiro absurdo, sendo que a esse respeito, no final, a própria atitude dos dois policiais demonstrou que realmente se tratou de um excesso, quase uma covardia. Um filme interessante, com alguns estereótipos aos quais os americanos não resistem (como, por exemplo, “todos os tiras são imbecis, menos os nossos heróis”), mas que não comprometem o conjunto, que, afinal, mostra uma realidade, valorizada por uma jornada instigante e bem construída. 8,0