CANINA (NIGHTBITCH)
Certamente um filme polêmico, atualmente críticas tendo críticas que o qualificam desde 1 até 5 estrelas. E com certeza um grande desafio – vencido com coragem e talento – para a eclética Amy Adams, que transmite com brilho e maestria as facetas variadas dessa complexa personagem. Uma obra estranha e por isso mesmo fascinante, assim como o é por sua originalidade, repleta de simbologias, mantendo o espectador intrigado e fascinado até o seu final (desde que vencido o choque inicial). Aqui se misturam gêneros e que inclusive geram dúvidas: fantasia metafórica? Drama e terror? Comédia e romance? Por meios não corriqueiros, um texto que tem muito a dizer e que navega por inúmeros subtextos (casamento, relacionamentos, responsabilidades sobre os filhos, resolução dos problemas de forma frontal e honesta, sacrifício da profissão para cuidar do lar…). Entretanto, seu foco se concentra e pode ser resumido em uma palavra “maternidade”. O filme desconstroi o lado romântico de ser mãe e escancara o seu lado escuro, evidenciando o peso das transformações, as dores do labirinto sem saída, as emoções difíceis de represar…expondo com coragem, enfim, a face brutal da maternidade. Duas frases extraídas do contexto podem resumi-lo: “ser mãe conecta você ao seu lado selvagem” e “a maternidade é o amor mais poderoso do universo e ao mesmo tempo o mais severo e doloroso”. A parte final é ao mesmo tempo criativa e chocante (a última cena certamente podendo impactar os mais sensíveis). Ao lado da magnífica atuação de Amy Adams (e que valeu uma indicação no Globo de Ouro), a performance do texano – e já premiado – Scoot McNairy também é marcante, apresentando um personagem humano em variadas composições e que empresta um tom adulto aos seus atos – mesmo diante de fatos nem sempre palatáveis -, ao mesmo tempo em que elege como prioridade o amor maduro, respeitoso, honesto e verdadeiro: o personagem dialoga e age como se imagina seja o ideal em uma relação entre pessoas que buscam a felicidade, mas também a verdade. Baseado em romance de 2021 de Rachel Yoder e dirigido pela americana Marielle Heller, é algo que em face dos enfoques ricos que apresenta merece ser devidamente saboreado. 8,9