A CALDEIRA DO DIABO (PEYTON PLACE)
Este ótimo e interessante filme, produzido nos EUA, foi indicado a 9 Oscars e incrivelmente não ganhou nenhum! Não por lhe faltar qualidades, mas pela excelência das produções no ano de 1957, como A ponte do rio Kwai, Sayonara, Testemunha de acusação, Os 12 condenados, Tarde demais para esquecer, As três faces de Eva, Cinderela em Paris. Mas poderia ter ganho qualquer dos Oscar a que concorreu, desde Melhor filme, diretor, roteiro adaptado, passando por atriz, atriz coadjuvante, ator coadjuvante e fotografia. A soma deu sete, porque houve duas indicadas para atriz coadjuvante e dois indicados para ator coadjuvante, totalizando, assim, nove indicações. Em qualquer delas o filme poderia ganhar, sendo ótimos o diretor, Mark Robson, a atriz principal Lana Turner (na época com 36 anos), os dois atores coadjuvantes Arthur Kennedy (Lucas) e Russ Tamblyn (Norman) e as atrizes coadjuvantes Hope Lange (Selena, sendo que a atriz ficou mais conhecida pelo seriado Nós e o fantasma, de 1968 – a senhora Muir) e Diane Varsi (Allison, que é a narradora do filme). Não se pode também deixar de enaltecer a bela atuação de Loyd Nolan, ator que alguns anos depois interpretaria o papel de médico na série Júlia. O filme se passa em 1941 em uma cidade fictícia da Nova Inglaterra, tem um maravilhoso colorido e apesar de longa metragem não se torna cansativo, sendo até a sua metade mais ou menos algo mais de costumes, paisagístico e narrativo, da vida pacífica, contemplativa, conformada, conservadora etc de uma cidadezinha típica americana. Nada parece fora do figurino. Entretanto, o equilíbrio existente começa a ser abalado por segredos revelados e por diversos fatos graves que ocorrem (e que o rompem definitivamente) e que formam tanto um universo típico da vida interiorana onde reina o comodismo mas também certa pobreza de espírito, quanto uma severa e mais do que eloquente crítica a todo esse sistema, que tem seu momento culminante durante o julgamento (no discurso). O filme em sua segunda metade exprime e explode, assim, toda a energia represada em sua primeira parte, propiciando grandes emoções para o espectador (e tem até tribunal), que se enternece (relembrando os belos momentos da adolescência) e se compadece, mas também se indigna e experimenta variados sentimentos, conforme os diversos temas enfocados, entre eles a dependência afetiva e intelectual dos jovens, o aborto, o incesto, o suicídio, o sexo como matéria pedagógica, temas efetivamente corajosos para a época e que de repente podem até ter prejudicado o filme no aspecto das premiações. O início do filme encontra nas últimas cenas um fecho perfeito e também emocionante (falando das quatro estações e também da quinta, que inicialmente é um mistério…), deixando sensações e sentimentos que perduram por um bom tempo após o The end, o que comprova se tratar de uma bela obra, que, aliás, foi um grande sucesso de bilheteria a partir de seu lançamento, em dezembro de 1957. De aspecto negativo, certamente o título em português, que se pode até se compreender vendo o filme, mas sem dúvidas é de extremo mau gosto e nenhuma empatia provoca com relação à ótima e harmoniosa -embora aguda- história contada. 9,0