EDEN

Um filme extremamente interessante, original, denso, envolvente, com vários momentos de impacto, excelente performance de todo o elenco e também ótima direção de Ron Howard (Apollo 13, Uma mente brilhante, O código Da Vinci, Frost/Nixon) – e ótimo título também! Alta qualidade, em tempos nos quais o cinema anda escasso de bons filmes. Além de tudo, apresenta uma história com referências políticas e históricas e um desenvolvimento muito bem amarrado e imprevisível. E possivelmente momentos finais para os quais o espectador não estará preparado (sem spoiler)! Como parêntesis, contam os historiadores que Charles Darwin em setembro e outubro de 1835 visitou as Ilhas Galápagos (Patrimônio Mundial da Unesco a partir de 1978), pertencentes ao Equador e localizadas a leste do país, no Oceano Pacífico (a cerca de 1000 quilômetros da costa) e que sua observação sobre a diversidades das espécies ali existentes, principalmente dos tentilhões, foi fundamental para a formação de sua famosa Teoria da Seleção Natural, que alterou drasticamente a visão científica sobre a origem biológica da vida (exposta no livro “Origem das espécies”) – outra curiosidade é que a tartaruga gigante da icônica fotografia de Sebastião Salgado habita essas ilhas. E é justamente em tal ambiente que se passa o filme, no longínquo ano de 1929, local que passou a ser tanto de estudo, quanto de refúgio da civilização, conforme os motivos de cada personagem. Vemos pouco a pouco sendo desvendados e desenvolvidos os ditos propósitos e surgirem tanto as conexões como os focos de tensão e conflito. E é quando o filme cresce e o drama se intensifica, sendo então o belo roteiro extremamente valorizado pelo estelar elenco, com grande destaque para o veterano e cada vez melhor Jude Law (The young Pope, Closer), a surpreendente e versátil Ana de Armas (Bailarina, 007 Sem tempo para morrer), a profunda e intensa Sydney Sweeney (Euphoria, The white lotus), a enigmática e forte Vanessa Kirby (The Crown, como a princesa Margaret) e o sempre competente Daniel Bruhl (O alienista, como Dr. Laszlo), que interpretam personagens tão diferentes quanto bem desenvolvidos, cada qual reagindo a seu modo em um ambiente isolado, hostil e no qual se busca a todo custo a sobrevivência, ainda que em parte moral. Nesse meio, vemos a busca da paz e da espiritualidade, mas também da afirmação dos devaneios, além das teorias que expliquem e justifiquem o mundo, o homem e sua existência e finalidade: os limites físicos agindo contra a religiosidade para reafirmar, como tese, o homem como um animal indissociável de seus instintos. Tudo em um contexto ao mesmo tempo complexo e rico. E com um desate de tirar o fôlego. 9,5

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