BOB MARLEY – ONE LOVE

Para quem não conhece Bob Marley além de uma ou outra música que ele fez e popularizou, este filme musical biográfico é uma ocasião a ser aproveitada. Esse artista foi e é um ícone na Jamaica e uma figura musical das mais importantes na história da música, notadamente por ter feito do reggae um veículo sócio-político, de conscientização popular e propagador do espírito e dos ideais do movimento Rastafári: igualdade absoluta entre todos (sob todos os aspectos), liberdade, respeito à natureza, à saúde, aos animais, mensagens de amor e paz, resistência à tirania, além de chocar o mundo pelo uso medicinal (e de conexão com o divino) da cannabis, influenciando não apenas a música mas alguns costumes relacionados com a moda (cabelos, roupas coloridas). Com fortes influências africanas, o Rastafári surgiu na Jamaica em 1930, mesmo ano em que na Etiópia era coroado Imperador Ras Tafari (Makonnen), que viria a se chamar, a partir de então, Haile Selassie, que passou a ser tido pelos adeptos daquele movimento como uma divindade, na verdade como o próprio Messias. O filme, produzido pela família de Marley – e que tem como produtor executivo Brad Pitt -, é simples, mas ao mesmo tempo emocional e poderoso em sua essência e mensagem, mostrando o mais relevante na tumultuada e opressiva época na Jamaica e na vida do cantor e compositor, que acabou se transformando em ídolo maior, talvez inclusive considerando a sua morte prematura. Vemos e sentimos, com cores fortes, o impacto (muitas vezes arrepiante) do som da banda de Marley, de suas interpretações e das letras de forte conteúdo sócio-político: quando cantada no filme a música No woman, no cry, lembramos que deu origem à feliz (e quase fiel) adaptação de Gilberto Gil e que a traduziu como Não chore mais,com enorme sucesso; entre várias outras, também se destaca a música One love, que dá parte do título ao filme. Além de todo um contexto histórico-musical e que deu vida ao reggae, ficamos sabendo que o ritmo surgiu como uma variação do jazz e a banda de Marley inclusive apresenta vários números marcantes de improvisação (a exemplo das notáveis jazz sessions). Ótimo elenco, com destaque para os intérpretes de Bob e Rita Marley: Kingsley Ben-Adir e Lashana Lynch, sendo diretor o americano Reinaldo Marcus Green, o mesmo que em 2021 dirigiu Will Smith em King Richard: criando campeãs. O filme, cujo final contempla imagens reais da época, permite, enfim, que se avalie a dimensão tanto do compositor e cantor que lutou bravamente durante décadas contra as diferenças etárias, de cor, raça, credo etc, quanto de sua própria figura carismática e importância para a Jamaica e para o mundo da música universal. Que todos possam, então, conhecer um pouco a história de Robert Nesta Marley. 9,0