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Este é um filme de 1968/1969, que apesar de não ser agradável para todo tipo de público, é considerado um clássico do cinema político. É, na verdade, um dos grandes filmes desse gênero, feito por quem costuma passar sua própria ideologia para a tela: o diretor grego Constantin Costa-Gavras (Estado de sítio, Desaparecido, O corte). Aliás, no início do filme já se anuncia que “qualquer semelhança com pessoas e eventos reais não é mera coincidência e sim intencional”. Foi indicado a muitos prêmios e ganhou premiações importantes como o Oscar de Melhor filme internacional de 1970 e o Globo de Ouro de Melhor filme estrangeiro, no mesmo ano. Adolescente quando foi exibido no Brasil, lembro da emoção e do choque que causou a mim e aos meus amigos, principalmente nas cenas finais, que são realmente antológicas e permanecem vivas na memória: talvez em muito pela situação do país na época. E o interessante é que este suspense político franco-argelino ainda permanece, em muitos pontos, bastante atual, tendo-se baseado em um fato real ocorrido na Grécia em 1963, com o deputado Grigoris Lambrakis, e na investigação que se sucedeu, na qual muitas circunstâncias foram encobertas pela polícia e pelo exército, envolvidos em vasta rede de corrupção e ilegalidade e no regime de exceção vigente. Aqui, os assuntos criminosos encobertos (e naturalmente ocultados da população) são meio estereotipados, assim como alguns personagens. Mas nesse libelo contra o obscurantismo, o maniqueísmo pode muito bem ser atribuído ao espírito crítico e irônico do diretor, um exagero proposital a favor do próprio menosprezo ao extremismo e à manipulação, inclusive porque os que conspiram muitas vezes são muito mais transparentes em seus crimes do que imaginam e tencionam. O filme tem Irene Papas entre outros, mostra o peculiar charme e empatia do ator Yves Montand (O salário do medo, Adorável pecadora), mas sua virtude maior é a agilidade das cenas, o ritmo profundamente sedutor, notadamente quando começam as investigações com o aparecimento do personagem muitíssimo bem interpretado por Jean-Louis Trintignant, que é um verdadeiro alento e esperança contra o obscurantismo, inclusive revelando em sua conduta uma exemplar imparcialidade, quase incompatível com o contexto dos fatos, mas como deve ter, de fato, um legítimo magistrado. Mas os momentos realmente inspiradores são os da parte final do filme: primeiro, quando os até então poderosos são, com sua coleção eloquentemente ridícula de medalhas, reduzidos à sátira; e depois, nas cenas e registros finais, absolutamente memoráveis e que acentuam o choque e a emoção, notadamente quando revelam o destino dos personagens e o verdadeiro sentido do próprio título do filme. 9,0