O MONSTRO DA LAGOA NEGRA (CREATURE FROM THE BLACK LAGOON)

Este drama/thriller de ficção científica (com toques de terror) foi lançado em 1954, fazendo parte dos filmes de monstros (clássicos) da Universal Pictures, como os de Lobisomem, Frankenstein, Homem Invisível, Múmia etc e é muito importante que seja visto com a exata noção daquela época carente de tecnologia e efeitos especiais. Só assim se dará o devido valor a ele, que inclusive foi produzido para ser visto em sistema 3-D (com óculos especiais), embora em muitas salas tenha sido exibido com imagem normal, em razão do próprio declínio das “três dimensões”. Para aquela época foi algo impactante e com grande fascínio, embora hoje soe inocente, infantil e até mesmo precário (adjetivo que pode ser aplicado à própria vestimenta do monstro e à cenografia, que lembra em alguns momentos a de Perdidos no espaço, entre outros). O diretor foi Jack Arnold, que um ano antes dirigiu A ameaça veio do espaço (baseado em livro de Ray Bradbury), no ano seguinte faria o também sucesso de ficção Tarântula e em 1956 a sua obra-prima, O incrível homem que encolheu. Aliás, a década de 50 foi pródiga em filmes desse gênero, sendo alguns deles hoje em dia quase ridículos e outros ainda interessantes por vários aspectos. Este filme assim guarda interesse e importância, embora sua produção seja bastante limitada e haja aspectos até questionáveis ou risíveis do roteiro (praticamente padrão para temas afins), incluindo a descrição da fauna local, contendo bagres assassinos de 3 metros: embora se ambiente na misteriosa Amazônia, fato mencionado desde o início e confirmado pela bandeira do Brasil e pela placa do “Instituto de Biologia Marítima”. Mas a direção, a fotografia, a trilha sonora (que mantém constante o suspense), e as atuações são elementos com boa qualidade, já tendo o ator Richard Carlson inclusive trabalhado com o mesmo diretor no filme A ameaça…. Fora ele e de mais conhecido, atua no filme Whit Bissel, frequente em diversas produções e que ficou mais famoso com O túnel do tempo, nos anos de 1966 e 1967. Mas a atração que acabou sendo a principal do filme é a personagem de Julie Adams, então com 27 anos (e que faleceu em 2019 com 92 anos) e que já havia sido inclusive Miss Litle Rock em 1946. A “bela de maiô”, como foi ela denominada pela mídia da época, foi a responsável por imagens icônicas divulgadas a partir do filme, principalmente junto ao monstro e a Universal, também como estratagema publicitário, chegou a anunciar na época que as pernas da atriz eram as mais simétricas do mundo e estavam seguradas em 125 mil dólares (muito dinheiro então). E se é certo que o filme tem bastante de “A bela e a fera”, também o é que o monstro acabou sendo fonte de inspiração para muitas obras cinematográficas, incluindo “A forma da água”, de Guillermo del Toro (que ganhou vários Oscar). Contam, igualmente como curiosidade, que aqui a criatura foi na verdade interpretada por dois atores diferentes e que por seus físicos diversos exigiram figurinos diferenciados: Ben Chapman para as cenas do monstro fora da água e Ricou Browning para as submarinas, até porque era mergulhador profissional e algumas tomadas exigiam que prendesse a respiração por vários minutos – dizem que os dois atores jamais se encontraram, já que as cenas de um eram feitas na Flórida e do outro na Califórnia. Em resumo, um filme que hoje em dia está longe de assustar, mas que pode servir de ótimo entretenimento (pipoca e refri a postos), ainda mais se o valorizarmos adequando-o aos tempos de seu grande sucesso. 8,5