MARIA/MEU NOME É MARIA

Este filme – que alguns confundem, pelo nome, com o da vida de “Maria Callas” – se apresenta como uma biografia da atriz Maria Schneider, o que permite deduzir que os fatos apresentados são verdadeiros. E sendo assim, tudo se torna absolutamente sério e chocante, mais ainda porque circunstâncias provavelmente desconhecidas tanto da crítica/mídia, quanto do grande público que acompanhou o lançamento e a repercussão do filme “O último tango em Paris”, de 1972. Porque todo o roteiro de “Maria” se relaciona com a filmagem do “Último tango”, que foi algo realmente ousado para a época, tanto pelas cenas de nudez, quando pelo texto forte, porém principalmente com a famosa cena “da manteiga”: o filme foi dirigido pelo hoje aclamado cineasta italiano Bernardo Bertolucci, que dois anos antes (1970) havia dirigido “O conformista” e nos anos seguintes faria obras como “1900”, “La luna”, “O último imperador”. O ator de “O último tango” foi o ícone Marlon Brando (que no mesmo ano de 1972 estrelou “O poderoso chefão”) e sua partner uma surpresa desconhecida, justamente Maria Schneider, que faria em 1975 “Profissão:repórter” com Jack Nicholson e desapareceria artisticamente, mais nada fazendo de relevante em sua carreira. Detalhe: ela tinha na época das filmagens 19 anos. Como dito, este filme “Maria” é biográfico e narra fatos absolutamente escandalosos e repugnantes envolvendo a dita cena da “manteiga”, fazendo com o que espectador não apenas dê asas à imaginação em relação aos motivos pelos quais Bertolucci contratou uma atriz quase desconhecida para contracenar com um astro como Brando, como no que se refere ao próprio mundo do cinema e seus segredos sórdidos. Sem “spoiler”, o filme provoca espanto e diversos outros sentimentos, inclusive permitindo que cada espectador tente adivinhar as razões pelas quais os fatos não vieram à tona na época do filme, que justamente pela polêmica gerada (censura, Igreja etc) acabou sendo um grande sucesso mundial e, aliás, é inclusive considerado por alguns como a obra-prima de Bertolucci. Certamente para os mais antigos e para os que acompanharam os acontecimentos de 1972 e assistiram ao “Último tango…”, haverá uma boa dose de impacto, que aliada ao conhecimento dos fatos já fará valer a pena ver “Maria”, bem interpretada por Anamaria Vartolomei – atriz franco-romena de “O conde de Monte-Cristo” e que em algumas cenas, espantosamente, chega até mesmo a lembrar fisionomicamente Maria Schneider -, com Matt Dillon fazendo ótima imitação de Brando e competentemente dirigido pela francesa Jessica Palud, que não deixa a história cair no melodrama e em cada tomada e narrativa demonstra estar absolutamente ciente da importante missão que assumiu ao trazer à baila fatos de tamanha gravidade (talvez para um mea-culpa generalizado…), mas que ocorreram (por sorte de seu autor) em época diferente da contemporânea, onde teriam certamente um tratamento bastante diverso, talvez fazendo justiça a quem foi vítima, com tamanhas e irreversíveis consequências em sua vida e carreira. 9,0