AS COISAS QUE DIZEMOS, AS COISAS QUE FAZEMOS/AMORES INFIÉIS (LES CHOSES QU´ON DIT, LES CHOSES QU´ON FAIT)

Drama romântico – e filosófico – francês, de 2020, com um roteiro bem estruturado e de certa forma surpreendente (o que torna o final imprevisível), que contempla pessoas e relacionamentos, seres humanos repletos de dúvidas, sentimentos, reticências, tendo de escolher caminhos em seus encontros e desencontros, sem saber ao certo se é a escolha correta. Nesse ponto, evoca o livro A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, onde o “peso” é justamente o de jamais podermos saber se o caminho que optamos seguir era efetivamente o melhor. Apesar do complexo contexto dessas relações humanas amorosas, o filme ainda assim é leve, delicado e saboroso, destacando, além do roteiro (com passagens muito interessantes e até afiadas), as excelentes direção e performances do elenco, com destaque para a franco-argelina Camélia Jordana, (e que também é cantora). O diretor e também roteirista é Emmanuel Mouret. Também são marcantes no filme a fotografia e a eclética e bela/apropriada trilha sonora, que embala os variados momentos de forma bastante especial. Na verdade, o que este filme reafirma (o já visto em muitos outros, franceses) é o modo peculiar de os franceses viverem os relacionamentos, ao assumirem de uma maneira muito mais franca e rápida do que os latinos os problemas dos relacionamentos e adotarem prontamente as ações/soluções necessárias. Aqui parece não haver culpados ou mesmo julgamentos. As lições enaltecem a honestidade dos sentimentos, mas ao mesmo tempo em que discute as diferenças entre paixão e amor, provocam reflexões sobre os limites da fidelidade e de se assumir caminhos novos a todo momento, tornando talvez fúteis os relacionamentos…Pode-se criticar o filme sob tal ponto de vista, assim como nos seus supostos exageros: entretanto, alguém já defendeu que isso constitui apenas um estilo e não necessariamente um defeito, inclusive o de associar o amor à frustração. De todo modo, o fato é que tudo de que se nutre a história, seus caminhos diversos e suas sutilezas e interrogações, acaba alimentando o coração e deixando no final coisas boas no ar. Principalmente por alguns princípios que a certa altura são enaltecidos e em parte representados pelo belíssimo pensamento da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir: O homem pensa que ama, mas raramente ama. Ele se engana. Ele pensa que o desejo de possuir, o ciúme, são sinais de amor. Mas não se busca vingança por amor, não se mata por amor. O verdadeiro amor está interessado apenas na felicidade do outro. Não está preocupado com a posse. Ele não possui nada. 9,0