O SOL QUE NOS PROTEGE
Filme Ítalo-britânico de 1990, estrelado por John Malkovich e Debra Winger, em ótimas performances e que me deixou com várias sensações meio indefinidas. É um filme estranho. Essas sensações que mencionei provavelmente são derivadas da própria natureza do filme e do estilo do diretor Bernardo Bertolucci (que dispensa comentários), bem como em parte tanto das dificuldades de se adaptar um livro, ainda mais complexo nos temas existenciais (o escritor, Paul Bowles, por sinal é o narrador), como de alguns problemas reais vindos justamente dessa dificuldade: senti uma ou outra falha de edição, como achei a falta de solução ou de continuidade adequadas para alguns fatos, inclusive envolvendo o personagem do ator Campbell Scott, que acabou ficando bastante “manco”. Falando em defeitos, achei o personagem do ator Timothy Spall totalmente ridículo e caricato, inclusive quebrando em parte a harmonia. Felizmente pouco aparece. Mas o filme tem mais virtudes do que os pequenos defeitos. É algo que foge ao convencional, estranho, com personagens que não agem de forma habitual e que, aliás, viajaram dos EUA para o norte da África sem qualquer compromisso de tempo de permanência. Tempo que faz parte de um dos belos diálogos do filme, como também é significativa a seguinte conversa, que na verdade define um dos personagens: “- Talvez tenhamos medo da mesma coisa…- Não, não temos. Você não tem medo de ficar só. E você não precisa de nada. Não precisa de ninguém. Poderia viver sem mim”. A esse respeito, roteiro deixa realmente a certeza de que o livro deve realmente ser muito bom. O filme tem ótima trilha sonora (ganhou o Globo de Ouro) e uma fotografia deslumbrante (Prêmio Bafta), valorizando as paisagens maravilhosas e exóticas. Essa “viagem” realmente vale a pena e seguir os personagens acaba sendo um passeio imprevisível porque o espectador também é levado a um habitat fora do seu e se encanta e ao mesmo tempo se choca com os mesmos fatos que conduzem os personagens: o esplendor da natureza, do silêncio da imensidão, em contraponto com a falta de recursos, a pobreza, as doenças, o calor insuportável, as moscas em profusão. Em resumo, é um filme estranho porém belo, triste, melancólico, reflexivo e nesses fatores acaba residindo seu fascínio. 8,0