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CALVARY

calvaryFilme Irlandês de 2014, com Brendan Gleeson, na verdade um drama que apresenta alguns “tons” de comédia (à la humor negro), mas que predomina com o lado sério do roteiro. Um padre do interior, que pode ou não mudar sua vida e sua rotina a partir de uma confissão (a primeira cena do filme é a que vai conduzir o personagem e é excelente, impactante, despertando de imediato o interesse). Muito interessante o ritmo do filme e o desfile de personagens, que lentamente vai mostrando que na pequena aldeia podem existir os ótimos exemplares da fauna humana das grandes cidades, com seus pecados, segredos e vícios. Tudo isso orbita em torno do personagem, otimamente interpretado por esse grande ator irlandês, que valoriza muito cada filme que faz. O mistério sobre a identidade de quem confessou permanece até o final, quando se aguarda se o desfecho será ou não o anunciado. Ótimo e adequado título o do filme.  7,7

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O AMOR É UM CRIME PERFEITO (L´AMOUR EST UM CRIME PARFAIT)

o-amor-e-um-crime-perfeito-dublado-onlineThriller francês, produzido em 2013 e com roteiro adaptado. Aos poucos o filme nos acumula de mistério e clima. Mostra o personagem, algo enigmático e com segredos a serem desvendados. O que é feito lentamente, mérito do filme. O personagem é fascinante – e nos confunde (porque invariavelmente seduzido) -, por deixar lacunas sobre sua culpa ou inocência e parecer cumprir uma sina, em uma missão sem volta. Filme para adultos, o suspense e a sensualidade também habitando as paisagens de neve das tundras, ensolaradas às vezes, nos arredores da belíssima e turística Lausanne (Suíça, quase fronteira com a França), onde misteriosos desaparecimentos acontecem e onde o charmoso professor ministra suas aulas, que – como ele – fascinam algumas alunas, inclusive com sua distante (?) e natural (?) sensualidade. As lacunas nos tornam reféns da trama. As relações são apaixonadas e impregnadas de pecado. Realmente mérito do filme o não-explicitar das coisas, o tornar fascinante a calma da paisagem e das coisas pelo que se imagina que está oculto, inclusive nas almas, que parecem todas inquietas, insatisfeitas: e que mesmo depois de algumas revelações não nos fazem perder o interesse. Filme de ótimo nível do moderno cinema francês, que  resgata a tradição desse cinema, com competência, paisagens maravilhosas, ótima direção (Jean-Marie Larrieu) e fotografia e trazendo o veterano ator Mathieu Amalric em um de seus melhores papéis. 8,5

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LES GRANDES ONDES (À L´OUEST)

Les_Grandes_Ondes_a_l_ouestUma turma de radialistas suiços viaja em abril de 1974 para um trabalho em Portugal, a fim de reportar os benefícios que a Suiça levou para aquele país. De repente, sem saberem, estão no meio de um acontecimento histórico (ficam sabendo desse por colegas belgas, concorrentes). Um filme que visto no tom certo é prazeroso e inclusive provoca boas gargalhadas. É uma comédia, falada em francês e em português, também por esse lado sendo bastante interessante. Produção franco-suiça-portuguesa, é divertida e leve e – importante – foi produzida em 2013 e lançada em 2014, de modo que sua “cara” de filme antigo bem demonstra o mérito de fazer uma excelente reconstituição de época. Os personagens e seu “tom”, emprestado pelo ótimo elenco, são engraçados (inclusive quando se comportam seriamente…), cada um com seu tipo e perfeitamente adequados, valorizando não apenas o roteiro, mas também a direção do jovem suiço Lionel Baier. Outra grata surpresa é que o filme também nos reserva alguns momentos de emoção, como o da manifestação dos cravos, na praça e o entoar do fado. A nota no IMDB (Internet Movie Data Base – base de dados da internet, que pertence à Amazon,com e fornece a média de notas dadas para um filme), para o meu gosto, não deu o devido valor que o filme merece.  8,0

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VIVA A LIBERDADE (VIVA LA LIBERTÀ)

viva la libertaComédia italiana diferente e interessante, com crítica social e política e algum humor negro nesse sentido. O começo parece sério, mas a trilha sonora deixa claro o gênero: comédia de costumes, centrada em personagem político e na luta da oposição para fazer frente nas eleições futuras. O desdobramento com o irmão do personagem é inesperado e acaba sendo o ponto vital da história, que agrada, apresenta facetas interessantes e mesmo não sendo uma obra filosófica apresenta alguns temas para reflexão. Divertido, leve e com um ótimo elenco: o ator Toni Servillo brilhou em “A grande beleza”; a atriz Valeria Bruni Tedeschi brilhou em “Capital humano”. Ambos enriquecem qualquer filme, porque são perfeitos e capazes de fazer qualquer papel.  7,7

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THE DEN

The_Den_Poster_2_20_14Este é um filme que pode ser definido como de “terror moderno” – pelo conteúdo e também pela forma original de contar a história – e só vai agradar aos fãs do gênero/ pessoas de estômago forte. Um filme de horror contemporâneo, com muito suspense e feito com bastante competência, que pelo estilo de filmagem pode lembrar, entre outros, “A bruxa de Blair”. Dentro do gênero é, de fato, excelente, mas deve ser realçado o fato de que é feito efetivamente para pessoas de gosto especial, pois é um filme muito forte/pesado e violento, apesar de começar leve e meio despretensioso. Um suspense realmente muito bem construído e intenso, enfocando a informática e os modernos meios de comunicação, envolvendo a internet e as conexões interpessoais por imagens: mostra tanto a vastidão de possibilidade de interação, como os perigos desses contatos casuais, sem compromisso e em grande parte anônimos, com os efeitos que podem causar na vida de cada um, ainda mais quando envolvem uma fauna tanto variada, como imprevisível, que circula livremente e pode, se houver chance, invadir fácil e perigosamente a nossa intimidade. Assustador, principalmente na parte final, com o impacto que provoca ao mostrar uma realidade que já existe, gerando importante reflexão sobre o presente e o futuro das coisas e a própria natureza humana com suas mais bizarras facetas.  8,0

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CAPITAL HUMANO (IL CAPITALE UMANO)

Il_Capitale_Umano2013_BLUWORLDUm drama do moderno cinema italiano: maduro, pungente e irônico na medida certa, com sutilezas, fazendo uma radiografia da vida social (e de seus tipos…) e da própria decadência de valores e, no caso, talvez da própria Itália. Título perfeito e felizmente foi traduzido ao pé da letra para o português, pois o filme revela ao mesmo tempo diversas facetas do “material humano”: criminal, social, hipócrita, sempre beirando o tragi-cômico em sua abordagem sócio-cultural…Roteiro muito bom mesmo (adaptado) e que sai totalmente do lugar comum, apenas deixando de ser interessante em um momento ou outro, mas nesses instantes o que poderia ser um “novelão” acaba sendo contornado pela hábil maneira de ser contada a história, de modo que se o conteúdo em geral já é de qualidade acima da média, a forma também foi feliz e disfarça as imperfeições: nesse ponto, embora não seja inovador o método de mostrar a mesma história sob a perspectiva de vários personagens, no caso produziu um ótimo resultado, inclusive no espectador, que ao ter contato com a realidade pessoal de cada um pode confirmar ou mesmo mudar suas convicções a respeito dos fatos e do aprofundamento deles: e é fascinante como a gente muda de visão sobre alguns personagens ao ter acesso à intimidade deles. Ao roteiro muito bom, acrescente-se a ótima fotografia, a excelente trilha sonora e a direção (Paolo Virzí) e interpretações impecáveis (com destaque para Valeria Bruna Tedeschi, que é também roteirista e cineasta e cujo rosto parece uma mistura de Edie Falco com Gillian Anderson e para a veterana e sempre interessante Valeria Golino). Nos letreiros finais, a contundente explicação para o título do filme.  8,8

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ENTRE NÓS

entre nósUm drama brasileiro, em meio a uma vasta produção de comédias nestes anos de 2013, 2014. Original em termos, porque alguns fatos já foram vistos em outros filmes (em O reencontro, por exemplo…). Achei o filme também irregular na densidade dramática e montagem em alguns trechos. Mas no geral merece o conceito de um filme bastante interessante, bem elaborado, principalmente em sua parte final, que se torna sensível e algo imprevisível. E, de fato, algumas cenas são realmente ótimas (fica, porém, o enigma da “mensagem do besouro”…). Direção boa (Paulo Morelli, de Vips e Cidade dos Homens), trilha sonora agradável e ótimas interpretações de Caio Blat, Carolina Dieckmann, Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Julio Andrade e Marta Nowill, as quais fazem com que o filme mantenha o interesse do início ao fim.  7,7

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MEA CULPA

mea culpaPolicial francês daqueles bons!!! Uma mistura dos velhos com os novos tempos. O clima de antigamente, com os recursos de agora, luz e sombra, perseguições frenéticas, dramas existenciais, o lado psicológico, traumas, muito ritmo mesmo. Nenhum grande roteiro (embora uma bela surpresa – a surpreendente natureza humana… – no final), mas bastante ação. Dois atores do novo cinema francês e que reúnem todos os requisitos que os personagens pedem: tiras acostumados com a dor, com o submundo do crime, com misteriosas reticências, imprevisíveis, permanentemente tensos e torturados… parecendo sempre deslocados, heróis e bandidos ao mesmo tempo. Vincent Lindon (o homem sem lábios, ator de Augustine e Les salauds/Bastardos) e Gilles Lellouche (ator muito produtivo no atual cinema francês), pela primeira vez juntos, demonstrando uma química incontestável nesse thriller intenso; “craques” no gênero (interessante: trata-se de atores veteranos e não novatos) e que também por isso tornam o filme muito interessante.  8,0

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XXY

xxyO nome do filme deixa de ser um enigma se recorrermos à biologia e à química. Mesmo assim, esse drama argentino de 2007 (co Espanha e França), filmado no Uruguai, mantém o mistério e o suspense e vai desvendando os fatos aos poucos, com alguns simbolismos inclusive. Vale a pena se deixar envolver e não tentar antecipar as coisas, porém atentando para os detalhes e os símbolos às vezes muito sutilmente apresentados. Não é um filme para todos os gostos, até porque incomoda pelo tema e pela abordagem. Mas é uma obra séria, que trata de uma questão não tão comum, mas também não tão rara quanto se imagina (falo da síndrome…), com direção segura de Lucia Puenzo e ótimo elenco (Ricardo Darin dispensa comentários), principalmente a brilhante Inés Efron. O filme fala do preconceito, das dificuldades de ser diferente e de serem aceitas as diferenças, bem como da súbita mudança de comportamento provocada pelo olhar que identifica o ser humano, além de outros sub-temas dentro de um roteiro rico e interessante. Tanto, que o filme foi indicado para representar a Argentina no Oscar (categoria Melhor Filme Estrangeiro) e ganhou vários prêmios, inclusive em Cannes.  8,0

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THE TREATMENT (DE BEHANDELING)

the  treatmentEste é um filme belga de 2014. Um thriller ao estilo “policial/suspense em busca de um assassino e/ou pedófilo”, só que em linguagem muito diferente do usual cinema americano: lembra em alguns momentos Seven, para se ter uma ideia do “sombrio” do filme. Um filme, portanto, forte, pesado, envolvendo um policial atormentado pelo passado em que teve um irmão menor vítima de um psicopata. Um thriller mais psicológico do que de ação, para quem gosta de cinema desse tipo, que apresenta um realismo bem acentuado. A virtude do filme é ser muito bem feito, evidenciar a existência do problema, mas não se pode chamar exatamente de “diversão” o contato com esse mundo patológico e sórdido. Entretanto, o ótimo roteiro adaptado, o elenco e a direção excelentes e o clima denso (também valorizado pela trilha) tornam sem dúvidas o filme bem acima da média, notadamente considerados os filmes que exploram essa temática.  7,7

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A THOUSAND TIMES GOODNIGHT

a thousandJuliette Binoche faz aqui uma fotógrafa de guerra. O filme, produção tríplice (Irlanda, Noruega e Suécia), é contemporâneo, portanto enfoca o Afganistão, a África, milícias…É um drama que começa muito forte e segue caminhos inesperados quando aborda a vida pessoal. É criado um conflito entre a vida privada e a “missão” da fotógrafa de levar ao mundo as atrocidades que acontecem e que não seriam reveladas de outra forma (Vaidade? Idealismo? No caso, o filme não cogita do primeiro fator). Mais complicado fica, quando se estabelece o confronto vocação x família. Só estranhei o filme não ter abordado o que me pareceu um dilema ético, logo no início: o do distanciamento do fotógrafo do fato, mesmo daquele que represente ameaça à vida e em que ele possa intervir… À parte essa questão, o filme é sério e seguro nas interpretações e na direção (Erik Poppe, que recebeu no final de 2013 o prêmio especial de direção no Festival de Montreal – Grand Prix). Até permite alguns questionamentos quanto à verossimilhança, mas na parte final é algo dolorido, mas ao mesmo tempo belo pela mensagem que passa.  8,5

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THE DEVIL´S VIOLINIST

The devil-Um filme de contrastes. De repente temos um novelão, um roteiro meia boca, alguns atores fracos misturados a outros bons. Mas uma produção razoável, com boa reconstituição de época. Boas intenções. Uma mistura de qualidade e escassez. Um paradoxo. Que acaba se definindo pelo lado positivo e que é o da música. Meu pai dizia que às vezes um livro valia a pena por uma frase. Pois bem, este é um filme romântico, com pretensões “épicas”. Bem pretensioso, por sinal. Música de fundo empolgante, mas nem sempre convincente, não combina muitas vezes, algumas cenas com ares de pompa, mas que nem sempre causam o efeito esperado…Algo que desconcerta pela mistura de qualidade e defeito. Embora as mulheres e os românticos vão gostar, talvez sem essas restrições… Mas, voltando ao raciocínio, para mim, apesar de tudo, os números musicais compensam qualquer problema e fazem o filme valer a pena. O violino é algo que dilacera a alma quando bem tocado, quando explora as execuções rápidas e os agudos prolongados, emociona profundamente. Isso nos faz fechar os olhos para quaisquer defeitos de roteiro ou interpretação. Esquecer a pretensiosa intenção de contar a vida de Paganini, esquecer das interpretações oscilante do galã e hesitante da mãe de Charlotte, bem como a muito ruim do pai. Visto como um filme romântico de sessão da tarde e com momentos episódicos que mexem com a sensibilidade, é uma boa e até emocionante diversão. Produção ítalo-austro-germânica, de 2013.  7.5

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THE LUNCHBOX

indiaDe repente somos inseridos na cultura da Índia. A pobre e superpopulosa Índia. Percebemos de um lado a diferença gritante entre aquela civilização e a nossa. Nossa tecnologia, nossos ícones sociais, nosso avanço cultural, acesso a tudo, enfim…De outro lado, também percebemos com clareza e perplexidade que por eles terem tão pouco, valorizam as pequenas coisas, coisas importantes e que passam despercebidas em nosso dia a dia. Como a boa comida, um diálogo que espelhe nossas almas, dentro de uma rotina que de repente se transforma em um estímulo diário de novas emoções. A entrega de marmitas de Mumbai é famosa e, dizem, infalível. A Índia é o país que faz mais filmes no mundo, superando inclusive os EUA. É tanta gente, que o talento nem sempre é valorizado. Naturalmente muito de sua produção – inclusive premiada com o Oscar – merece destaque. E este filme, da simplicidade extrai várias joias. Cenas do “homem comum” fazem nosso coração estreitar e expandir. Fazem refletir e emocionam. A essência está aí, nos deixarmos sentir, nos deixarmos livres para perceber e é o que faz o mérito deste filme. De um situação corriqueira e ocasional, extrai-se uma história muitíssimo interessante, emocionante, repleta de humanidade e doçura. O aprofundamento de uma relação anônima comove pelas revelações íntimas e retrata com precisão a solidão, o desamparo, a busca da felicidade. “Eu acho que esquecemos das coisas se não houver ninguém para falarmos delas”, frase aparentemente solta, mas pungente…Um canal insólito de comunicação foi criado e à medida em que vai se aprofundando, nossa alma vai sendo tocada aos poucos, maduramente. Em determinada cena, parece que somos nós que estamos prestes a ir para o primeiro encontro…Fascinante trabalho, com delicadeza invulgar…Reflexões sobre a vida, sobre a velhice…A realidade é palpável…A simplicidade cheia de significados… O que vale, afinal, é viver…O ator Irrfan Khan atuou em PI e desempenha de forma absolutamente real e natural, brilhantemente; o diretor, Ritesh Batra, um revelação…Uma frase: “o trem errado pode te levar à estação certa”. A maravilhosa atriz, Nimrat Kaur…A agonia do final…que não é certamente o fim! 8,8

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AVANT L ´HIVER

Antes-do-Inverno-posterHá filmes que evidenciam serem muito bem feitos, fruto de inteligência, sensibilidade, de ótimo texto. Que contêm dramas que deixam muitas reticências, envolvendo relacionamentos e sentimentos. Em que nem todas essas reticências são claramente perceptíveis e o contexto complexo envolve o espectador em mistérios que apenas aos poucos vão sendo revelados. Alguns sentimentos são difíceis de se compreender em sua totalidade; outros, achamos que entendemos, pelos méritos do diretor ou de seus intérpretes. No caso, um filme diferente (ou seja, que foge do óbvio), daqueles em que o cinema francês é mestre e que nos provoca no final sentimentos difíceis de definir. Os quais permanecem por algum tempo…perceptíveis e com a força que define um belo filme. O ator, dos que eu mais admiro, é Daniel Auteuil, que desempenha um papel difícil, maravilhosamente bem construído e com o talento de sempre, tendo como parceira também uma das atrizes de quem mais gosto, Kristin Scott Thomas, que aqui também valoriza a personagem com suas nuances e seu silêncio muitas vezes mais do que eloquente. Um belo exemplo do ótimo cinema francês, para adultos e público especial (estilo “cinema de arte”, ou seja, filme longe do estilo “popular”). Produção França/Luxemburgo 2013, dirigida com muita competência por Philippe Claudel (Há tanto tempo que te amo, com a mesma Kristin). O nome do filme sugere a estação do outono (a que precede o inverno…) – enaltecida pela bela fotografia -, que pode aqui vista inclusive como uma metáfora para os sentimentos e inquietações do personagem. O que valoriza ainda mais um filme que tende a ser mais conceituado na medida em que se passe a refletir sobre todas as suas qualidades.  8,8

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LE WEEK-END

le_weekend_ver3Este é um filme muito interessante. Produção britânica. Às vezes engraçado, outras vezes sério, profundo, tocante, classificado como uma comédia dramática com romance. Faz um maravilhoso estudo do relacionamento de um casal, na meia idade, com os filhos já tendo saído de casa e que, ao comemorar 30 anos de casamento, tenta resgatar não apenas a relação, mas a identidade de cada um. Para tanto, a cidade eleita é Paris e o filme nos dá fabulosas imagens da cidade e de sua rotina, além de cenas especiais (algumas inesperadas) do fenômeno “ser humano”. O ator Jim Broadbent é a cara do Bill Murray e há cenas em que parece o próprio. Mas é ótimo ator, embora na minha opinião o brilho maior seja de Lindsay Duncan. O diretor é Roger Michell (Um lugar chamado Nothing Hill). Detalhe importante: acho que as pessoas que nunca tiveram relacionamentos longos e as mais jovens não vão gostar do filme. Do contrário, vão se identificar e se conhecerem Paris, então o valor do filme vai aumentar ainda mais.  8,5

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ZULU

zuluDrama policial bastante forte (pelo realismo, das cenas densas e do ritmo), passado na África do Sul (que co-produziu o filme, junto com a França), que realmente parece terra de ninguém, onde ser polícia não significa estar protegido e nem ser autoridade a ser respeitada. Reflexos do Apartheid. Porque a história explora o submundo da corrupção, da violência desmedida, tudo em torno das drogas e de interesses maiores, onde alguns policiais e bandidos têm inclusive semelhante aparência. Qual o limite da ética nesse universo de barbárie? Forest Whitaker para variar nos brinda com uma excelente interpretação e o filme tem qualidade bem acima da média, com muita ação em sequências eletrizantes de investigações e perseguições policiais (em locações diferentes a que estamos acostumados, incluindo belas praias e favelas da Cidade do Cabo), com uma trilha sonora também muito qualificada. A atuação de Orlando Bloom é absolutamente surpreendente. E a sensação de impunidade e descontrole é muitíssimo bem colocada pela excelente direção de Jérôme Salle, que também roteirizou, adaptando o livro de Caryl Ferey. A parte do final do filme é sensacional e nos colocamos no lugar do personagem ao definir o que é justiça, afinal, em um clima que culmina com uma situação quase inconcebível e que apropriadamente nos lembra dos finais épicos do faroeste (locação soberba), com a consciência do animal que somos…ou do animal que não somos. O filme encerrou o Cannes  2013.  8,0

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AT MIDDLETON

MiddletonAtenção, instruções sobre como ver este filme: comédia romântica com algum pastelão e com muita emoção. Portanto, ver com o coração, simplesmente! Dito isso…Como é bom ter afinidade com alguém. Como o mundo fica bonito, colorido, tudo fica leve. E como é bom ver uma comédia descontraída, bem feita, sem muito compromisso com nada, exceto com a leveza, com o viver, com o amor…Deliciosa simplesmente, com belíssimas atuações de Andy Garcia e Vera Farmiga. Ela, irmã da atriz que faz sua filha. Mas, entre Vera e Andy… que química maravilhosa! O clima, o ritmo e a música desta comédia combinam perfeitamente com o “voltar a ser jovem”. As músicas tocam e nos tocam nos momentos precisos. A parte do teatro é genial e seu significado é de quando, a pretexto de se fazer uma comédia de costumes, são discutidos com profundidade os relacionamentos e a felicidade. Os dois “viajando” na maconha também é de rachar. Para pessoas românticas (como eu), o filme é lindíssimo em sua essência. Como é bom ver filmes em que os sonhos se realizam como se fosse uma “Cinderela” ! E na minha opinião, este é um dos mais belos filmes românticos dos últimos tempos.  8,8

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O MISTÉRIO DE CANDYMAN

candymanEste não é um filme para todos os públicos. A grande parte das mulheres, por exemplo, foge de filmes assim. E é absolutamente recomendado para adultos. Na verdade é um suspense, com contornos de terror, pois são bastante fortes as cenas de violência e o filme todo se desenrola sob um clima de permanente tensão, valorizada pela trilha sonora. Portanto, eletrizante e apavorante. Na verdade, este filme foi o precursor do “cinema de lendas urbanas”, que se propagou nas últimas décadas. “Candyman” é, pois, um personagem de lenda urbana: um assassino com um gancho em uma das mãos e que dilacera suas vítimas estripando-as de baixo para cima. Diz a lenda que surge do submundo que habita quando alguém diante do espelho diz o seu nome cinco vezes. Um filme que assustou muita gente e que ainda tem bastante mérito nesse sentido, porque é extremamente bem feito e tem um ótimo elenco, capitaneado por Virginia Madsen (ótima), o que lhe valoriza o clima e a credibilidade. Excelente diversão para quem gosta de colocar seus nervos à prova. Lembro que pouco depois da época do lançamento (1992) fiz um desafio aos amigos, que consistia em ver o filme de madrugada, com as luzes apagadas, sozinho, concentrado e sem interferência alguma (de barulhos externos, por exemplo) e depois, terminado o filme, dirigir-se ao espelho e dizer “Candyman” cinco vezes…ninguém topou o desafio (que mantenho)!…7,8

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HIT´N STRUM

Hit nMais um belo filme canadense. Este drama musical passa, além da beleza da música, um clima de total liberdade. Uma descontração valorizada pela leveza da direção, pelo ritmo do filme, com bela fotografia. Mostra que podemos com nossas ações mudar nosso destino e as coisas, embora não tudo e às vezes até certo ponto. História que envolve mundos diferentes e a história e vida dos músicos de rua e que poderia ter seguido caminhos mais adocicados, mas não fez concessões a determinada parte da realidade. Classificado por alguns como musical, é na verdade um drama leve repleto de músicas, compostas pelo roteirista e diretor, que por acaso também é o protagonista (Kirk Caouette). Bela fotografia, um filme a ser visto com prazer. 7,7

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JOE

Joe_(2013_film)_posterPodemos de início torcer o nariz para este filme, porque ele nos mostra um universo paralelo em relação ao que vivemos e é um mundo selvagem, meio à margem da lei, sujo, miserável, de uma cidadezinha do interior americano (interior do Mississipi, na verdade), onde muitos parecem viver como se não existisse justiça, praticando atos que nos chocam pela crueza, pela bestialidade típica de uma comunidade anacrônica. Um ato de selvageria pode acontecer de um segundo para o outro, um bêbado ser brutalmente assassinado, alguém levar um tiro saindo de casa, fazendo parte do estilo de vida daquele povo. Mas esse é justamente o valor do filme: nos transportar para esse mundo e nos encantar por mostrar de forma muito competente essa realidade, onde parece não haver esperança, não haver valores nos quais se agarrar, tudo profundamente valorizado pela trilha sonora, que emoldura todo o filme e deixa algumas cenas com uma tensão quase insuportável. E é aqui que o Cinema exige alguns recursos: porque quem assistir ao filme sem valorizar o impactante som, vai perder metade do valor da obra. É como tomar vinho em copo de geleia… Este é um filme para se admirar pelos trapos humanos que mostra e com volume alto, para a trilha sonora realmente produzir seu excelente efeito. Ótima direção, grande atuação de Nicolas Cage, um filme realmente diferente e a ser apreciado. 8,0