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MUSTANG (CINCO GRAÇAS)

filmes_11029_cinco2As meninas – as graças do título – são adoráveis, com sua inocência, beleza, traquinagem, sua curiosidade e transformação de meninas-moças…mas os costumes não o são. Naquela vila no norte turco, a tradição e os costumes ainda mantêm a rigidez e impera um patriarcado forte, ao lado da influência e regência da religião. As famílias escolhem os noivos para as filhas e negociam os casamentos, a virgindade deve ser provada pelo sangue no lençol, uma brincadeira simples com meninos pode ser interpretada como lasciva e as meninas são educadas para serem castas, serviçais. Não é difícil que os mais velhos recordem de que certas normas da própria educação brasileira de há 40 ou 50 anos pareciam anacrônicas, absurdas ou no mínimo injustas: os pais eram tratados de “senhor” e “senhora”, os filhos tinham que ter permissão para falar à mesa, as crianças eram castigadas fisicamente (com cintos de couro, varas de marmelo…), homens não usavam certas cores, como cor de rosa e amarelo, e assim por diante. Mas tudo mudou, o mundo evoluiu, modificaram-se os conceitos da educação, a própria ciência acabou provocando uma revolução nos costumes e na maneira de olhar e tratar as crianças e os jovens. Porém, em boa parte da civilização do mundo de hoje tudo estagnou e ainda vigoram leis e práticas que não reconhecem a igualdade entre os sexos, que punem com a morte crimes que para nós não são assim tão graves, que restringem cabalmente a liberdade, inclusive a de expressão, que retiram dos seres humanos, totalmente, sua dignidade. O contato com esse tipo de prisão nos faz mal, ainda mais quando contemplamos a opressão de jovens sensíveis, bonitas, saudáveis e nas quais já se percebe, pela própria influência da modernidade, não só o desejo, mas também a necessidade de respirar a liberdade a plenos pulmões (este filme lembra bastante As virgens suicidas). Nesse ponto, o filme realiza bem o seu objetivo, embora não seja brilhante (embora equilibrado e muitíssimo bem interpretado – a menina mais nova é um show), nem original. Dirigido pela talentosa Deniz Gamze Ergüven, também sua roteirista, foi apresentado em Cannes 2015, na Quinzena dos Realizadores e ganhou em novembro último o Prêmio Lux 2015, oferecido pelo Parlamento Europeu aos filmes que realçam a identidade e a diversidade cultural da Europa. É o representante da França para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016 (co-produção Turca e Alemã).  7,7