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LISTEN TO ME MARLON

listen-to-me-marlonPenso que este documentário sobre Marlon Brando, britânico e feito por Stevan Riley (que também o editou) em 2015, nos dá uma dimensão muito maior sobre ele, sua vida e seus pensamentos, do que qualquer outra obra anterior. Aqui ficamos conhecendo a verdadeira intimidade e os pensamentos não revelados do mito. Porque além de trechos de filmes e muitas fotos, de diversos momentos da vida e da carreira do célebre e polêmico ator (inclusive da infância e juventude), o documentário apresenta o áudio de sua secretária eletrônica e principalmente de preciosos depoimentos e gravações, com pensamentos e impressões de Marlon sobre a vida, sobre os filmes, sobre a tirania dos diretores, sobre o poder do Cinema, sobre o interesse financeiro que predominava sobre tudo, sobre o objetivo que ele tinha na vida, de viver simplesmente, no meio de pessoas simples e para as quais não fosse importante a origem e a profissão de seu vizinho. Entre diversos temas, ficamos sabendo que o elemento de revolta e indomável do temperamento do ator – e que transmitiu de maneira implacável e veemente para seus personagens – teve origem nos traumas de infância, nos maus tratos que sofreu do pai, por quem nutriu um ódio singular, até a morte do mesmo. Contemplamos a marcante beleza física do ator – valorizada pela personalidade difícil e imprevisível -, que se tornou um símbolo sexual, ficamos sabendo que seu pensamento sobre interpretação incluía a entrega total, sendo um dos primeiros a fazer laboratório antes de compor um personagem e, de outro lado, que se engajou em movimentos sociais radicais, com induvidosa coragem, como na defesa dos negros, inclusive ao lado de Martin Luther King, e dos índios, a ponto de recusar o Oscar de Melhor Ator pelo personagem de O poderoso chefão (Don Corleone), não comparecer à cerimônia e mandar em seu lugar uma autêntica índia, que fez um pequeno discurso em nome do ator, protestando contra a maneira como Hollywood mostrava a cultura indígena. Um homem polêmico, corajoso, original, que a partir de certo momento da vida passou a utilizar o cinema apenas como meio para ganhar dinheiro e com isso usufruir as coisas boas da vida (ainda com o sonho do Taiti), pois havia perdido a ilusão com a Indústria Cinematográfica, vendo-a apenas como uma máquina comercial a favor dela mesma e nada mais que isso. Ficamos conhecendo Marlon Brando um pouco melhor. E podemos facilmente admirá-lo um pouco mais. Desta vez não apenas como um soberbo ator, mas como um ser humano decente, que deixou importantes marcas e lições e que, lamentavelmente, acabou tendo, como pai, tragédias maiores das que suportou como filho.  8,8