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PODRES DE RICOS (CRAZY RICH ASIANS)

Esta é uma comédia romântica de ritmo perfeito, muito colorido, alegria, músicas, juventude, costumes ocidentais e orientais em exibição e conflito, com direção e elenco afinado e um estilo que vai entreter jovens e adultos, muito parecido com filmes como Quatro casamentos e um funeral, só que com as vestes da modernidade. Tanto do som, da música, das cores e dos costumes, quanto da comparação do mundo ocidental com o oriental em ascensão, o que faz desfilarem na tela imagens belíssimas da ostentação dos ricos e poderosos de Singapura, simbolizando o crescimento do poder sócio-econômico da Ásia sobre a América e o resto do mundo. Os costumes, aliás, são amiúde objeto de cenas e situações dramáticas, no fundo aparecendo as intenções legítimas e inocentes do par romântico central, em torno do qual gravitam interesses altamente relevantes. É um estilo de filme para deixar o espectador alegre, leve e um pouco emocionado com algumas cenas. Uma delas, belíssima, é a do casamento, pelo conjunto da linda música tocada ao violão (Can´t help falling in love, por Kina Grannis) e das imagens, inclusive inesperadas da cerimônia. A cena final é um deslumbre e confirma a pujança do Oriente moderno, embora o filme deixe claro que acima disso tudo estão os valores do coração. Um filme que vai do bobinho (inclusive as primeiras cenas da amiga asiática são ridículas) e do banal até uma realidade inegável e que cresce bastante do meio para o final, consistindo em ótima diversão, a tal ponto de ser indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Musical ou Comédia. O elenco – basicamente composto por asiáticos –  é muito bom, com destaque para a atriz Constance Wu. 8,0

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COLETTE

Uma delícia ver filmes de época da Paris da efervescência cultural do final do século 19 e início do século 20. Aqui um drama biográfico e supostamente baseado em fatos reais, envolvendo uma personagem feminina que ousou desafiar sua época e a sociedade parisiense com sua ousada literatura. Só que ela era um ghost writer, ou seja, escrevia para o parceiro, que colocava todas as obras em seu próprio nome. A atriz Keira Knighley amadureceu muito ao longo dos anos e alcançou um equilíbrio notável como atriz, a ponto de poder enfrentar qualquer papel, mesmo que de nuances delicadas no campo musical e até erótico. Pois a personagem que representa era uma livre pensadora e, assim, liberta em seus atos e atitudes sociais, embora engessada pela própria época opressora. Mas ela tem um parceiro à altura: o ator Dominic West, da série The affair, desempenha muito bem o papel do escritor que se aproveita do talento da esposa para brilhar, em uma época em que as mulheres estavam apenas engatinhando em busca de seus direitos. O roteiro conta fatos que efetivamente aconteceram e que mexeram com a Paris da época, mostrando um pioneirismo feminista de grande destaque no mundo literário e artístico e o filme transcorre com expectativas e algum suspense quanto ao desenrolar do drama, que no todo acaba ocorrendo a contento, porém sem grandes arroubos, embora o brilhantismo da interpretação da atriz.  8,0

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THE BALLAD OF BUSTER SCRUGGS

A simples menção de se tratar de uma obra dos Irmãos Coen significa ao mesmo tempo várias qualidades: roteiro criativo, inteligente, produção impecável, fotografia primorosa e ângulos diferentes, trilha sonora perfeita, tudo muito bem cuidado, originalidade e surpresas. Bom gosto, embora em geral com muita ironia fina inserida no contexto. Aqui, o título do filme é o do livro no qual se baseou e dá nome à primeira de várias histórias dos tempos do faroeste, que vão sendo contadas cada uma com um olhar particular, em uma bela reconstituição de época, valorizada pelas paisagens deslumbrantes do velho oeste. Contudo, em que pesem os elogios acima, alguns histórias pecam pela demora na resolução e na insistência dos temas filosóficos. Pode ser que nos tempos do western os fatos ocorressem assim, com tal mornidão, mas muitos momentos ficam enfadonhos e o filme se torna cansativo em vários episódios. Em resumo, a categoria dos Irmãos está presente em cada cena e se trata de um filme acima da média e com ideias boas, algumas inovadoras. Entretanto, o resultado de algumas histórias não é o esperado e obviamente esse fato prejudica um pouco o todo. Mesmo assim, um filme apenas bom dessa dupla já é superlativo à média que anda por aí e por esse motivoa obra merece ser conferida.  8,3

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WHITNEY

Doloroso é um termo que normalmente não se aplica a documentários. Ou a filmes estilo documentário, que geralmente são os biográficos. Mas aqui efetivamente não é nada prazeroso para os fãs contemplar a decadência de uma das maiores vozes que a música já teve: Whitney Houston foi uma diva e será sempre lembrada por interpretações memoráveis de canções que se perpetuarão pela história, tendo sido a única cantora americana a alcançar por sete vezes consecutivas o topo das paradas de sucesso. E justamente por isso, por esse imenso talento e pela imagem que todos guardamos dela, é que nos toca profundamente o destino que acabou seguindo em razão das drogas e que este filme mostra de forma incontestável e realista. Sob o ponto de vista cinematográfico, porém, obviamente é uma obra de valor, principalmente em sua primeira parte, que constrói os alicerces pessoais e familiares para a meteórica ascensão, com vários depoimentos, imagens de arquivo e da própria cantora. Na segunda metade o filme mostra a desconstrução do mito e se torna menos elaborado, embora prossiga causando emoções.  8,0

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THE SISTERS BROTHERS

Um grata surpresa, um filme realmente diferenciado dentro do gênero. Um faroeste que se passa no Oregon e na Califórnia, na virada do século 19 para o século 20, mas que aprofunda especialmente os personagens e enfoca nos detalhes, o que resulta na perfeita sintonia dos elementos: roteiro, fotografia, direção, elenco, trilha sonora (excelente e em alguns momentos bastante original). O diretor é o francês Jacques Audiard (Dheepan, Ferrugem e Osso, O profeta…), que elabora uma fabulosa reconstituição de época, na qual o progresso se mesclava à selvageria do Velho Oeste (a escova de dentes ganhou seu destaque, junto com a química), com o crescimento das cidades e da civilização, embora ainda bastante exigida do homem uma extraordinária capacidade de sobrevivência, inclusive em meio à corrida do ouro da Califórnia, que levou muitos à riqueza, mas outros à bancarrota ou à morte. Os dois irmãos “Sisters” são magnificamente interpretados pelos versáteis John C. Reilly e Joaquin Phoenix, havendo ainda no elenco Jack Gyllenhaal, Riz Ahmed e Rutger Hauer. O andamento é lento, mas o filme vai ficando cada vez mais forte e nunca perde o notável equilíbrio e a coerência do tema, que além de pontificar um precioso sentido de união entre irmãos, ressalta o que, afinal, parece ser o verdadeiro significado de toda a busca, na simplicidade do retorno à paz e ao aconchego.   9,0

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THE PASSIONATE FRIENDS (A HISTÓRIA DE UMA MULHER)

Este filme inglês, de 1949 e muitíssimo bem dirigido e co-roteirizado por David Lean (A ponte do rio Kwai, Lawrence da Arábia, A filha de Ryan, Doutor Jivago, Passagem para a Índia…), é enquadrado por muitos como um melodrama, embora pertença a uma fase do cinema – como dizem alguns – em que havia efetivamente histórias a serem contadas, ou seja, roteiros consistentes. Mas de fato não é justo tal enquadramento. Porque embora o filme pareça a princípio uma bobinha história de amor, na verdade não é bobinha e nem propriamente uma história de amor. É muito mais profundo que isso. É uma história de conflitos e sentimentos vários, que discute de forma densa situações humanas de ambiguidade. E que quando parecem se definir acabam se mostrando contraditórias inclusive ao que normalmente se espera socialmente. Pode ocorrer a pergunta: é possível se amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? A temática em seu fundo é muito interessante e na parte final do filme há momentos de grande intensidade dramática e psicológica, com boa carga de suspense e tensão e imprevisibilidade quanto ao seu final. Mérito também do elenco, protagonizado por Ann Todd, Trevor Howard e Claude Rains.  8,5

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INFILTRADO NA KLAN

Este filme está recebendo prêmios e várias indicações e tem o mérito da direção de Spike Lee e de enfrentar de peito aberto um tema bastante delicado para os americanos: o ódio racial (a primeira cena é impactante e bastante corajosa). E o faz mostrando com tons de drama e comédia um fato real – embora bastante improvável – ocorrido em 1978: um dos raros policiais negros da época (do Colorado) conseguindo se infiltrar no universo da Ku-Klux-Klan. Daí em diante, diversas facetas da época são mostradas, inclusive com o tom de crítica às ideias racistas, o que acentua a importância do roteiro. O filme é às vezes leve, outras vezes denso, tem um bom ritmo, mas tirando essas feridas não cicatrizadas que o cinema americano teima e precisa amargar de tempos em tempos, trata-se apenas de um bom filme. Nada além disso: um filme bem feito e com boas qualidades. Muito longe de ter o mérito dos vários prêmios a que vem sendo indicado, mas a máquina de Hollywood não pode ser desprezada e quando ela resolve eleger seus favoritos, o melhor é ficar atento. Ainda mais quando o diretor tem o currículo de Spike.  8,0

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THE WAVE

O nome infelizmente é o mesmo de outros filmes anteriores, produzidos em épocas diferentes e de temáticas diversas, podendo gerar alguma confusão. No caso, o gênero desta obra poderia ser simplificado como sendo o de “cinema-catástrofe”, uma espécie de filme que os EUA popularizaram em décadas passadas e que fizeram explodir na bilheteria diversos espetáculos de ação, suspense e efeitos especiais, como Inferno na torre e Terremoto, diversificando seus temas ao longo do tempo mas permanecendo com a mesma “matriz” dramática, sem grandes inovações de estilo. Previsíveis e repletos de clichês. E justamente aí é que cessam todos os elementos de comparação deste filme com os citados e os que os sucederam, pois aqui o cinema não é o americano e sim o norueguês, o que já traz de imediato grandes diferenças e repercussões: o filme narra fatos a respeito de uma realidade dentro do país, relacionada com seus fiordes e com o permanente monitoramento de rochas e montanhas, pois qualquer alteração geológica/tectônica pode precipitar avalanches/inundações/tsunamis. O grande diferencial deste filme é que não é apenas um filme de aventuras que pretende retratar uma realidade pungente e permanentemente latente na Noruega, mas a verossimilhança: tanto o roteiro, quanto as interpretações são realistas e sentimos tanto a possibilidade dos fatos, quanto os dramas vividos pelos personagens, muitíssimo bem interpretados. Não há aqueles estereótipos irritantes do cinema ianque, enfim. Cinema de qualidade, que foi a maior bilheteria da Noruega em 2015 e representou o país para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016, embora não tenha sido nomeado.  8,8

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TODOS LO SABEN (EVERYBODY KNOWS)

Como é bom ver o talento em ação! Como é prazeroso apreciar a atuação de um elenco magistral e se deleitar com os momentos que tal performance propicia! Ao constatar os três nomes que comandam o filme, o cinéfilo já poderá antecipar grandes momentos dramáticos, afinal não é comum reunirem-se Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín em um mesmo filme. E não há qualquer decepção, pois se trata efetivamente de um belo filme. Sob a batuta do premiado diretor iraniano Asghar Farhadi (A separação, O apartamento…), este drama espanhol abriu o Festival de Cannes de 2018 e foi indicado a dezenas de prêmios, trazendo além do excelente desempenho de todo o elenco, uma história pontuada por fatos de alta carga dramática e emocional: a partir de um acontecimento gravíssimo e que remexe com toda a família e com os que a cercam, eclodem conflitos familiares, segredos se revelam, dúvidas e mentiras aparecem e muito suspense (inclusive psicológico) e mistério toma conta do enredo, seguindo caminhos de um romance policial investigativo. O roteiro é ótimo e apresenta momentos de grande emoção, que realmente exigem dos atores e atrizes o máximo de sua arte. Foi filmado na Espanha.  9,0

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O RETORNO DE MARY POPPINS

Primeiramente: acho uma bobagem ficar comparando este filme com o de 1964, em que a “babá-mágica” foi magistralmente interpretada por Julie Andrews, que criou um inesquecível personagem, também valorizado pelo fato de que a atriz era também cantora e o filme é um musical – esse aspecto de não-comparação à parte, uma das críticas deste filme é não “rememorar” nenhuma das canções da primeira edição. Então, vista a obra como algo novo e singular, trata-se de um espetáculo quase perfeito, com uma técnica e cenas maravilhosas, magia, sonho, infância, paixão, sentido de família…tudo integrado e com um ritmo irresistível e coreografias perfeitas, uma ou outra memorável. Somos transportados para a fantasia e para as coisas boas e belas da vida!  E Emily Blunt desempenha com rara perfeição o papel título, cumprindo com louros a difícil missão e por esse motivo sendo com justiça indicada para o prêmio de Melhor Atriz no Globo de Ouro que se avizinha (dia 6 de janeiro próximo). Aliás, há outras 3 indicações: Melhor Filme Musical ou Comédia, Melhor Ator em Musical ou Comédia (Lin-Manuel Miranda) e Melhor Trilha Original. O filme tem cenas fabulosas, inesquecíveis e emocionantes e é realmente quase perfeito, talvez pecando por ser um tantinho longo demais. O diretor é o festejado Rob Marshall (Chicago, Memórias de uma gueixa, Piratas do Caribe…).  9,5

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LA STANZA DEL VESCOVO (A ALCOVA DO BISPO ou VENHA DORMIR COMIGO ESTA NOITE)

Mais um filme italiano (co-produção francesa) dirigido por Dino Risi (In nome del popolo italiano, Perfume de mulher, Os novos monstros…)  e da década de 70, precisamente de 1977. E uma vez mais com seu ator favorito, Ugo Tognazzi, aqui em parceria com o ator francês Patrick Dewaere. Destaque no filme também para a beleza felina da atriz Ornella Muti, na época com 22 anos. E o fato é que acaba sendo um filme surpreendente, até porque sem um gênero definido, ou melhor, uma mistura de diversos gêneros: ora é comédia, ora é drama, ora é romance, inclusive policial, ora tem erotismo (algumas cenas com ares das nossas “pornochanchadas”), mistério, suspense…não se sabe exatamente por onde a trama está indo, muito menos para onde nos conduzirá e o próprio protagonista (um larápio excêntrico?) é algo a ser desvendado…ficamos com várias dúvidas sobre se estaria havendo alguma trama e quem estaria de fato tramando…Toda essa miscelânea, afinal, acaba compondo um filme interessante e que prende o espectador o tempo todo. Talvez seu enfoque principal atraia mais o público masculino, pois todo o ponto de vista se forma a partir do universo dos homens, mas seja como for é um entretenimento apreciável, interessante e que surpreendentemente não perdeu boa parte de seu fôlego depois de mais de 40 anos.  8,5

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IN NOME DEL POPOLO ITALIANO (IN THE NAME OF ITALIAN PEOPLE)

Produzido um ano depois da copa do mundo de 1970 (fato muito importante dentro do roteiro), este filme apenas aparentemente é uma comédia despretensiosa e corriqueira de costumes – e que não esquece do caráter espalhafatoso inclusive da língua. Na verdade, trata-se de um drama com tons de comédia, mas contendo uma ácida crítica social: mostrando o descaso com os prejuízos que o progresso desenfreado provoca (para a natureza e a saúde principalmente), a corrupção, o povo alienado e a crise do poder judiciário…e tudo isso em meio a uma investigação policial, sobre um crime que também ocorreu em ambiente corrupto e de favores, no meio das classes mais favorecidas. Os opostos no filme, representando o duelo sagaz e afiado (como muitos diálogos) entre o crime e a lei, são simplesmente dois ícones do cinema italiano e só por eles o filme já valeria a pena: Vittorio Gassman e Ugo Tognazzi. Mas o roteiro é muito inteligente e de quebra o diretor Dino Risi (Perfume de mulher, Os novos monstros…) também nos dá um painel da época e nos brinda com vários daqueles tipos italianos que Fellini se dedicou a retratar em seus filmes. A cena final é maravilhosa, porque apesar de chocante e inesperada para alguns, escancara o eterno dilema da batalha entre a lei e os princípios. 8,9

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ROMA

Este filme é algo raro e vem sendo premiado por onde passa. Talvez acabe sendo realmente uma obra marcante na história do cinema, mas de todo modo os prêmios têm razão de ser. Deve ser destacado, primeiramente, que foi filmado em preto e branco, talvez para acentuar seu caráter autobiográfico, pois enfoca a vida familiar do diretor Alfonso Cuarón (o mesmo de Gravidade) ou, quem sabe, para enaltecer o próprio passado, pois os fatos ocorrem na década de 70 no México, época de turbulências e, claro, como sempre das desigualdades sociais, uma das temáticas do filme. O título se refere ao nome do bairro onde viveu a família do diretor (Colônia Roma), uma família de certas posses e que é mostrada em seu cotidiano, incluindo os pequenos dramas conjugais e seus reflexos. Pensando bem, talvez Cuarón tenha imaginado criar sua própria Roma, como Fellini o fez, afinal o diretor italiano era pródigo em filmar histórias autobiográficas…Mas, em segundo lugar, o importante é o paralelo da história da família com os dramas da empregada/babá Cleo, que tem sua rotina e intimidade radiografadas pelo roteiro, mostrando tanto os conflitos de classes, como o próprio modo de viver da classe pobre no país de paradoxos. Cleo é brilhantemente interpretada pela estreante Yalitza Aparício e o filme deverá ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, sem dúvida alguma. Em terceiro lugar, mas não menos importante e certamente o que torna o filme um grande destaque e nos provoca total deslumbramento o tempo todo: a fotografia! Cuarón não apenas escreveu, produziu, roteirizou e dirigiu o filme, como também foi o mestre realizador de uma fotografia absolutamente magnífica e que é destaque absoluto da produção. Há cenas que parecem pinturas e uma especialmente na parte final do filme é uma obra de arte pictórica. Aliás, a cena da praia (a do cartaz do filme) é uma das memoráveis do filme, não só pela imagem em si, mas também pelo significado dentro do contexto. O diretor é muito inteligente e sensível, sabe colocar sutilezas e até surpreender e construiu momentos inesquecíveis em uma obra coesa, enxuta e que mostra um painel humano e histórico com grande profundidade e impacto (as cenas da matança dos estudantes de 10 de junho de 1971 – o Massacre de Corpus Christi ou Halconazo – e a cena do parto são difíceis de esquecer). 9,0

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NASCE UMA ESTRELA

Este filme está aqui neste blog (ou seja, alcançou a nota mínima de 7,5) apenas por três motivos: primeiro, pelo ator e diretor Bradley Cooper, que realmente trabalha muito bem, acumulando as duas funções citadas e dando credibilidade ao complicado personagem, do competente porém “instável” cantor e compositor (ídolo das massas); segundo, pelas músicas – algumas muito belas – cantadas por Lady Gaga, já que ela realmente desempenha muito bem, com voz e fôlego; e terceiro, pela grande divergência de opiniões a respeito deste filme, porque a maioria realmente gostou muito, inclusive tendo sido indicado a diversas categorias do Globo de Ouro e suspeita-se que com reais possibilidades de várias indicações também ao Oscar. Ou seja: há os que vão adorar o filme! Inclusive a indicação de Lady Gaga como concorrente a melhor atriz, o que a meu ver é um completo absurdo e um descaramento político (e financeiro) total: ela é apenas uma atriz razoável, ficando a milhas de distância de qualquer outra boa atriz dramática, inclusive de Emily Blunt, por exemplo, que interpretou a Mary Poppins e que também concorre ao “Globo”. Aliás, na minha opinião, tirando as músicas cantadas pela dama citada e a interpretação do Bradley Cooper, o filme só sobrevive mesmo porque é um remake e remakes devem ter uma certa tolerância, uma vez que em geral aperfeiçoam as obras originais, principalmente pela evolução tecnológica do cinema. Em síntese, um filme mediano e que está sendo superestimado por motivos óbvios hollywoodianos. Com as devidas escusas a quem gostou muito, é uma repetição de fatos já abordados em dezenas de outros filmes, na história do cinema. 7,6

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HALLOWEEN

Este é o décimo primeiro filme da franquia, foi lançado alguns dias antes do 40º aniversário do original de John Carpenter e na verdade despreza todas as demais sequências. É como se houvesse apenas o original e esta continuação, 40 anos depois, com a mesma Laurie Strode, que havia décadas atrás conseguido escapar do ataque de Michael Myers, o assassino mascarado de Halloween. A atriz é a mesma Jamie Lee Curtis, bastante envelhecida, claro, mas esse aspecto dá uma credibilidade maior aos fatos, já que se trata da mesma pessoa que ficou traumatizada no passado pela fúria insana do serial killer. E que por isso acabou até se preparando para o retorno do monstro. É um filme bem feito e entrega o que promete, trazendo bons momentos de suspense. Obviamente é o roteiro de sempre, com poucas novidades, mas é exatamente isso que se espera dele. Aliás, há algumas cenas boas para se ver sozinho e com as luzes apagadas, ou seja, ideais para roer as unhas no escuro. No final, o esperado desfecho, porém uma vez mais não conseguimos ver o corpo do assassino como defunto, para termos certeza de que não haverá ainda outra continuação…7,8

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FIRST MAN

Dizem que o americano Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua, ficou com alguns problemas emocionais tempos depois que retornou à Terra. Entretanto, este filme não retrata esse período e sim o que vai do início da década de 60 até a quarentena imediatamente posterior ao grande feito.  Ryan Gosling interpreta muito bem a trajetória do astronauta, desde seus voos em jatos, até candidatar-se para tripular a Apolo 9, passando por todas as fases, testes e experiências exigidas pela Nasa.  O filme mostra Armstrong como uma pessoa corajosa, voluntariosa mas ao mesmo tempo amargurada em razão de perda familiar. Esse é o drama íntimo do astronauta, é o inimigo a ser vencido. Mas a história também contempla principalmente dois fatos: a Guerra Fria e a necessidade de os americanos estarem à frente dos Russos na corrida espacial e as consequências práticas dessa premência, com grandes custos para os EUA: não só financeiros, mas das vidas que se perderam nos projetos que não deram certo, principalmente na fase Gemini, que foi anterior à Apolo. Salvo engano, foram 9 astronautas que perderam a vida e a cada nova etapa tripulada a agonia tomava conta das famílias e dos próprios profissionais envolvidos, pelos vazios tecnológicos ainda existentes. Astronautas eram compelidos a arriscar suas vidas em foguetes ainda não suficientemente seguros. Claire Foy faz muito bem o papel da esposa de Neil e que representa todas as esposas dos astronautas e os dramas por que passaram durante tantos anos de experiências – muitas frustradas – dos projetos especiais. A própria viagem à lua em 1969 estava cercada de hesitações e incertezas. Não é um filme ágil, emocionante como poderia ser, mas acaba sendo um documento interessante, na medida em que mostra a realidade por trás do glamour da grande conquista.  8,0

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THE CHINESE WIDOW (THE HIDDEN SOLDIER)

O condutor deste filme, o dinamarquês Bille August, dirigiu diversas obras de qualidade, tais como Os miseráveis, A casa dos espíritos, Pelle,o conquistador, Trem noturno para Lisboa…Aqui, a história se passa após o ataque japonês em Pearl Harbor, quando os EUA decidiram bombardear Tóquio, mas o retorno trouxe imprevistos, inclusive uma inesperada visita (leia-se “queda”) em território chinês, invadido pelo exército do Japão. Este drama não tem praticamente nada de especial ou original, mas é bem feito, apresenta momentos interessantes, de emoção, o elenco é bom, o diretor veterano e é um bom entretenimento, cuja tendência é agradar moderadamente a uns e bastante a uma determinada faixa de público. Eu gostei. Nada de excepcional, mas é um filme correto e que no final fabrica aquela empatia que tanto emociona quando valoriza a obra, mexendo com sentimentos que todos temos e guardamos cuidadosamente. Gostei muito da atuação da chinesa Yifei Liu.  7,7

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GALVESTON

Este é um drama denso, um thriller criminal, violento em algumas cenas e também no tema, que aborda pessoas marginais e que se envolvem, de um jeito ou de outro, com o submundo do crime. Elle Fanning é uma das mais talentosas entre as jovem atrizes do cinema atual e com este filme demonstra definitivamente que está preparada para desempenhar qualquer papel. Há pelo menos duas cenas, comoventes, cada uma a seu modo (em que ela fala da irmã e a da dança), nas quais ela mostra a grande atriz que já é. Ben Foster, por sua vez, é um achado para o papel principal, compondo também um personagem fortíssimo – que cria uma tensão permanente em todas as cenas, pois daqueles sujeitos perigosos e imprevisíveis. Não é o primeiro filme a tratar do assunto, mas é certamente um dos melhores e pelo menos a sua parte final é maravilhosa, revelando no todo o inesperado talento como diretora da ótima atriz francesa Mélanie Laurent, que aqui dirige seu primeiro longa de língua inglesa. O roteiro é de Nic Pizzolatto, que escreveu o livro no qual o filme se baseia, sendo ele o criador da ótima série True Detective. Dentro do contexto todo, o nome do filme não poderia ser outro, senão o dessa cidade do Texas, banhada pelo Golfo do México e vez ou outra vítima dos furacões.  9,0

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PUZZLE (QUEBRA-CABEÇAS)

Um filme simples, sobre pessoas simples e relacionamentos, sobre família, sobre opções e a possibilidade de renovação do ser humano, bastando coragem para de um momento para o outro trilhar o caminho desejado. Não é para todos os gostos, mas para quem aprecia uma história sem grandes milagres, mas com o sabor do  milagre doce do dia a dia. E se a vida é um quebra-cabeças de mil peças, por que não enfrentar o desafio? Um filme simples mas envolvente, porque não se adivinha exatamente seu rumo, porque feito por gente competente, com um elenco harmonioso e uma atriz muito interessante – tendo como ótimo parceiro o ator indiano de Pi, Irrfan Khan -, que não aparenta de início ter a profundidade que revela e que de repente ao emitir um olhar parece nos dizer tudo sem precisar falar nada (a excelente Kelly MacDonald). E um diretor que consegue passar uma bela e delicada mensagem, com suavidade e beleza, trilha sonora escolhida com toda a competência, fotografia, edição, tudo funcionando de forma equilibrada (Marc Turtletaub, que também dirigiu Pequena Miss Sunshine), como uma música de orquestra.  8,7

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BOHEMIAN RHAPSODY

O nome do filme é o da música que protagonizou um fato da maior importância no início da trajetória da imortal banda inglesa Queen: Freddie Mercury e seus parceiros insistiram em gravá-la, mesmo contra a tradição da época de as rádios nunca tocarem músicas com mais de 3 minutos (e ela tem 6 minutos) e mesmo em se tratando de algo inédito no rock (pois a música mistura balada, rock e ópera…), causando uma ruptura corajosa com o patrocínio que tinham e de certa forma impulsionando de vez a carreira. Por sinal, Bohemian Rhapsody é a minha música preferida do Queen. E sou fã também – e muito – da lenda Freddie Mercury (eu e milhões). Por isso não é fácil ser isento ao ver um filme tão emocionante e que presta um tributo com tanta adrenalina e qualidade, mesmo preferindo não aprofundar certos fatos como poderia. O cantor era realmente uma força-viva da natureza, com uma voz magnífica e uma energia impressionante, ainda mais diante da aparente fragilidade de seu corpo e da ambivalência de sua alma. E está na tela toda a trajetória do ídolo, antes da fama, durante o merecido sucesso e até a da doença que o levou embora. Estão ali a família, os conflitos com a sexualidade, a evolução e os problemas da banda, a explosão do sucesso e do público. Tudo com a extraordinária interpretação do meu já favorito ao Oscar Rami Malek (o também brilhante protagonista da série Mr. Robot), a direção extremamente sensível e feliz de Bryan Singer (X-Men, Superman, Os suspeitos…) e um ótimo elenco, bem parecido com os personagens reais. Aliás, a reconstituição de época é muito boa, o filme possui muita qualidade técnica e também humana e se trata de um produto que não foi feito apenas para emocionar, mas para exaltar e eternizar um dos fenômenos do rock universal. O filme nos mantém reféns e embargados em muitos momentos, mas é na parte final que alcança o seu apogeu, com o estádio de Wembley lotado e fervilhando pelo projeto Live Aid e o conjunto comandado por seu mestre chegando ao auge de sua música e em momento inesquecível e de total interação com seu público e com o coração do mundo.  9,5