Shortlink

SE A RUA BEALE FALASSE

Baseado em famoso romance de James Baldwin e concorrendo ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, além de Melhor Trilha Sonora (New Orleans etc., ótima) e Melhor Atriz Coadjuvante (Regina King, igualmente muito boa), o filme na minha opinião não tem nada muito diferente do que já foi visto dezenas e dezenas de vezes no cinema sobre injustiça, pobreza, superação, união etc. O filme é bem acabado, tem ótimo elenco, alfineta bastante nos temas raciais, é bem conduzido (Barry Jenkins), apresenta alguns ótimos momentos românticos – embora predomine o drama pesado -, mas não traz para o espectador grandes atrativos, sequer um suspense bem construído sobre o destino dos personagens. Achei tudo muito morno, embora seja uma obra acima da média pelas qualidades já evidenciadas. Na minha opinião, este filme está muitíssimo distante de Moonlight – sob a luz do luar, trabalho anterior do diretor.  7,5

Shortlink

PODERIA ME PERDOAR? (CAN YOU EVER FORGIVE ME)

Um drama com tons de comédia em alguns momentos e um pouco menos leves em outros, baseado em fatos reais. Uma escritora que já passou de sua época, desempregada, solitária e precisando sobreviver, acaba encontrando uma solução para o seu problema, mas algo marginal e com isso desencadeia consequências inesperadas. A direção é sensível, o roteiro muito bem estruturado, mas o filme se sustenta mesmo graças à maravilhosa interpretação de Melissa Mc Carthy e Richard E. Grant, este a meu ver até injustiçado por não ter recebido nenhum prêmio de ator coadjuvante nas variadas premiações que já houve este ano. Ela está realmente sensacional (passando todas as “cores” da personagem) e a dupla foi indicada em todas as premiações deste ano, ela como atriz principal e ele como ator coadjuvante, e ambos estarão inclusive concorrendo ao Oscar no próximo dia 24 de fevereiro. Ela até poderia ganhar, mas a meu ver a concorrência de Glenn Close é muito forte. Entretanto, ele na minha opinião desempenhou um papel mais difícil do que o de seus concorrentes e mereceria ter ganho pelo menos em algum dos eventos (Globo de Ouro, SAG, Critics etc). De todo modo, é sempre prazeroso ver um filme interessante, com boas doses de realismo e tão bem interpretado.  7,8

Shortlink

ÁRVORE DO SANGUE

Um filme espanhol Netflix que no início é um pouco difícil de entender, porque mistura épocas e personagens diversos, que se entrelaçam direta ou indiretamente. Trata-se de um casal que resolve escrever a história da família e com isso somos conduzidos constantemente ao passado, em meio a diversos personagens, segredos, confissões dolorosas e muitos dramas. O filme tem uma excelente direção (Júlio Medem, de Lúcia e o sexo, que também é o roteirista), fotografia, trilha sonora e interpretações, sendo estrelado por Úrsula Corberó (a Tokio, de Casa de Papel), Joaquim Alejandro Furriel e Álvaro Cervantes, entre outros e os comentários sobre ele são os mais polêmicos. Primeiro pela forma de contar a história e os vários detalhes importantes ou não, que são abordados; segundo, pela complexidade do roteiro, principalmente no início da história. Entretanto, eu faço parte dos que ficaram fascinados com o filme, mesmo parecendo fragmentado às vezes, ficando ansioso pelos desdobramentos e sentindo grandes emoções em vários trechos, principalmente na parte final da história. O filme tem de fato cenas que parecem estar meio dispersas, uma ou outra falta aparente de conexão, situações com aroma novelesco, mas o seu todo é muito mais do que meros defeitos: é uma obra forte, de fôlego, com permanente erotismo (as cenas de sexo são quentes, embora de bom gosto), interessante e para quem tiver dificuldades de compreensão, no final a paciência será recompensada, pois então os fatos vão se aclarar e precipitar momentos de intensa emoção até a cena final, embora o desenlace para alguns não seja o que moralmente seria de se esperar…ou aprovar.  8,8

Shortlink

VIDA SELVAGEM (WILD LIFE)

Um grande elenco dirigido com sensibilidade, em um drama com as cores da realidade, fazem um bom filme. Jack Gyllenhaal (Velvet Buzzsaw, O abutre, O segredo de Brokeback Mountain, Príncipe de Pérsia) é um dos melhores atores das últimas gerações, um intérprete que aceita desafios e desempenha qualquer personagem. Carey Mulligan (Educação, Shame, Longe deste insensato mundo…) é uma ótima atriz e que sempre passa muita força nos papéis que representa, apresentando aqui uma de suas  melhores performances. Ed Oxenbould é um jovem e ótimo ator australiano (17 anos), que se mostra à altura do difícil personagem, a quem interpreta com muita maturidade. Paul Dano, o diretor, é também ator, produtor e músico, estreando com o pé direito neste filme como cineasta. Um filme forte, denso, que impacta, com bela fotografia e trilha e que nos envolve em uma trama que incomoda e por isso tem inegável qualidade. A história se passa em Montana, na década 60 e por isso há também uma competente reconstituição de época. Um belo trabalho, um belo filme, de melancólico final. Mas não poderia ser outro.  8,7

Shortlink

TEMPESTADE DE GELO

Um filme para adultos. Mais para o estilo do cinema de arte, porque nada corriqueiro, muito menos popular. Mas uma obra densa, surpreendente e de valor. Produzida em 1997 e com um elenco espetacular: Kevin Kline, Joan Allen, Sigourney Weaver, Tobey Maguire, Christina Ricci, Elijah Wood e, entre outros Allison Janney, Henry Czemi e Katie Holmes (com 19 anos). Dizem que quando um filme incomoda é porque é bom. E esse filme deixa a gente incomodado em muitas passagens, ao mostrar o conflito de gerações, a frieza conjugal, a alienação da juventude, o gelo nas relações e há cenas até bizarras ou ridículas, como a do pai tentando ser didático com o filho com o qual não consegue manter um diálogo de nível, com dois adolescentes tentando uma intimidade estando ela com a máscara de Richard Nixon, que, aliás, faz parte do contexto, pois os fatos são da época de Watergate…o diretor Ang Lee vai mostrando a solidão, os personagens perdidos à procura de algo e o faz com a habilidade e a frieza de um cirurgião. Até chegar à constrangedora festa das chaves, com no mínimo uma cena patética e acabando por resumir tudo na frase de um personagem que diz “na minha imaginação seria tudo diferente”. Mas tem uma das cenas, da filha subindo no colo do pai, que parece mostrar como seria simples a solução de tudo… O diretor é autor de várias belas obras da sétima arte, como  O tigre e o dragão, As aventuras de Pi, Razão e sensibilidade e aqui apresenta um belo, sensível (inclusive na trilha sonora e fotografia) e visceral estudo da natureza humana e cujo título não poderia ser mais apropriado e ferino. O filme ganhou vários prêmios, entre eles de melhor filme, roteiro, atriz coadjuvante (Sigourney Weaver) e traz questões muito interessantes, como a que associa as tragédias aos pecados (pensamento mágico) e como a que envolve o fato de que depois da tempestade vem a calmaria, mas também muitas vezes a certeza de que nada voltará a ser como antes. E nessa hora, já tomados completamente pela emoção, talvez choremos junto com Ben.  9,2

Shortlink

VELVET BUZZSAW

Este é um filme de terror tão inusitado, que se torna realmente divertido, inclusive pela estranheza que passa ao espectador – fato esse que, entretanto, mantém o interesse. É diferente, primeiro, porque a história se passa no mundo das artes e das galerias, com aqueles personagens típicos desse mundo (alguns afetados, alto padrão de vida, galerias suntuosas etc.); segundo, porque tudo é moderno, claro, limpo, não tem aquele clima de filmes de terror de antigamente. E terceiro, porque não parece um filme de terror: é como irmos vendo um drama, com alguns toques leves, relacionado com o selvagem universo das pinturas, galerias e exposições, as rivalidades etc. Inclusive sendo estrelado por Jack Gyllenhaal, Rene Russo e Tony Collette. Mas é, afinal e de fato, um filme de terror e que tem no fundo seu lado moral, podendo ser interpretado não como um filme de terror diferente por força dos tempos atuais, mas como um filme de terror do tipo antigo (com muitos e velhos elementos já conhecidos), apenas vestido com as roupas da modernidade. Boa diversão, embora com muitos desacertos e hesitações.   7,6

Shortlink

O CAPITÃO

A história, em bela fotografia em preto e branco, retrata uma farsa (quanto pode durar uma farsa???) e que até se imagina, afinal, ser possível, diante da complexidade de uma guerra. Mas o fato é que o filme é baseado em fatos reais, ocorridos em abril de 1945, portanto poucos meses antes do final da 2ª Guerra Mundial. A primeira cena já impressiona ao mostrar uma perseguição a um soldado desertor (sabe-se depois) que corre desesperado em frente a um pequeno caminhão – o lado negativo da cena é a falta de pontaria dos soldados alemães motorizados, perseguindo um homem a pé e o fato de que este teima em correr exatamente na mesma direção que o carro ! Mas é algo isolado dentro de um filme muito bem acabado. De todo modo, tudo é verossímil porque baseado em algo que realmente aconteceu e segundo uma lógica dentro do razoável, mesmo mostrando um impressionante embuste e que cada vez mais exige destreza e atenção plena do farsante, para não ser desmascarado. E o próprio emaranhado da hierarquia acaba permitindo as engenhosas manipulações de poder, o que passa a ser um atrativo a mais no roteiro, inclusive virando em algumas cenas quase comédia (lembrando, por exemplo, Guerra sombra e água fresta). A par disso, o filme tem um tom absolutamente sério e os horrores da guerra vão sendo mostrados, como as cenas do campo de concentração e a humilhação e violência contra prisioneiros, principalmente os desertores, executados à queima-roupa. As cenas dos assassinatos são quase inacreditáveis e nesse ponto o preto e branco cria uma densidade dramática realmente apreciável.  Os ângulos de câmera, assim como os demais detalhes técnicos, são muito bem cuidados e o filme mostra também o quanto o poder vai inebriando quem nele está investido (o farsante se sente invencível), como cria uma obediência cega e totalmente absurda – é hilária e melancólica a cena do capitão de cuecas dando ordens. E continua impressionando o fato de que, mesmo em grande maioria frente aos algozes, os prisioneiros se resignam e humildemente vão se sujeitando à morte certa, sem qualquer reação, fato certamente de grande importância no estudo sócio-psicológico dos fatos da guerra. O filme tem cenas impressionantes (como a das bombas ao final) e que o destacam muito acima da média: uma delas, depois do massacre, quando alguém diz “a bebida é por minha conta!”  8,7

Shortlink

VICE

Este é um filme forte (com tons de comédia, porém), com excelente roteiro, realmente muito bem feito, mas que não é para todos os gostos porque  aborda essencialmente assuntos políticos envolvendo os EUA – inclusive política de guerra, com cenas reais e de grande impacto, notadamente nas campanhas do Afeganistão e do Iraque. O tema pode ser aborrecido para alguns, mas a verdade é que o filme apresenta muitas cenas e temas interessantes, diversos fatos inéditos e traz de mais original o aspecto de que um vice presidente americano, de quem poucos ouviram falar, teve uma importância vital para o governo e para o mundo (pela consequência dos atos que autorizou pessoalmente ou se utilizando de um presidente dependente e com nenhum poder de comando – um fantoche, George W. Bush). Impressionante a figura de Dick Cheney, composta em mais um trabalho memorável do ator Christian Bale, com um igualmente marcante trabalho de maquiagem. O diretor é Adam McKay e esse drama biográfico também conta com ótimas performances, entre outros de Amy Adams (atriz realmente de destaque em cada papel que desempenha), Sam Rockwell (ótimo como George W. Bush) e Steve Carell (ator que tem enfrentado desafios em variados papéis). Há relatos no filme que são simplesmente inacreditáveis, como se fosse aberta uma caixa preta mostrando os bastidores da política americana, em que são permitidas e praticados atos muito além da ética e dos tratados. Concorre ao Oscar nas categorias Filme, Ator, Diretor, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Roteiro Original, Edição e Maquiagem.  8,3

Shortlink

GUERRA FRIA (COLD WAR)

Um filme em belíssimo preto e branco (certamente para dar o clima) que enfoca a Polônia do pós-guerra, precisamente a partir de 1949. No começo do filme já somos envolvidos com o folclore rural, com a escola de canto e danças típicas camponesas, tudo muito interessante: a “capela” (solo vocal) emociona, a difícil peça no piano arrebata e os fatos vão acontecendo aos poucos e confirmando a beleza da fotografia, o excelente figurino e a perfeita reconstituição de época, além do ótimo roteiro, que vai devagar acentuando o mérito do excelente diretor Pawel Pawlikowski (Ida) e da maravilhosa atriz Joana Kulig. As músicas em vocal são belas e chama a atenção a inocência das letras, que falam de um amor puro. Entretanto esse painel vai mudar com a introdução de temas políticos às canções, a partir do momento em que a escola vai também “servir” ao regime: nesse aspecto, em uma das cenas é visível o constrangimento dos diretores da escola Mazurka, enquanto o coral se apresenta para um público externo e na parte de trás do palco sobe um painel com a foto de Stalin: a Polônia, cujas baixas na segunda guerra chegaram a 20% da população, acabou instaurando um sistema socialista (seguindo alguns modelos russos). E desde o início surge e vai se aprofundando uma relação amorosa que afinal é o tema central do filme e que sobrevive com dificuldades em meio e ao sabor dos fatos políticos, geográficos (Polônia, Alemanha, Rússia, Iugoslávia, França…) e da própria passagem do tempo. E ao constatarmos que as letras das canções mantêm a pureza que a frieza do regime não conseguiu vencer, igualmente somos inebriados pela força inabalável do amor, o sentimento mais solitário do mundo, mas que a tudo pode transcender. Nos emocionamos com belíssimas cenas de felicidade, instantes mágicos como o de Zula cantando blues ou dançando rock!. Assim como há momentos dolorosos de distância, de impossibilidades e um impressionante sacrifício em nome do amor, tudo desaguando no final em um memorável momento que também evoca Shakespeare. Em resumo, uma belíssima obra, um filme de música, amor e dor, que ganhou diversos prêmios europeus (filme, diretor, roteiro, atriz) e concorre ao Oscar de Diretor, Fotografia e Melhor filme estrangeiro.  9,0

Shortlink

A PISCINA

Este filme francês (co-italino), de bela fotografia, feito em 1969 e dirigido por Jacques Deray (Borsalino) traz uma dupla que foi exaltada pelo cinema e ficou na história da sétima arte por sua beleza física. Ele, Alain Delon, ela, Romy Schneider, que treze anos antes havia imortalizado a imperatriz Sissi. O casal, realmente belíssimo, exala força e juventude e protagoniza uma ou outra cena erótica em meio à paisagem idílica do sul da França, embora a temática do filme seja bem diversa, conforme aos poucos vai sendo revelado – embora o clima de tensão erotica predomine ao longe do filme.  O roteiro faz um estudo interessante dos personagens (a partir da chegada do amigo e da filha) e provoca alguns bons questionamentos envolvendo relacionamento aberto, limites, fidelidade, ciúmes…Até onde a liberdade será coerente com a natureza humana? O problema, entretanto, é muitas vezes de ritmo, excessivamente morno, algumas cenas arrastadas ou desnecessárias (muitas para mostrar a beleza plástica do vaidoso galã) e também um pouco de interpretação, uma vez que Romy é ótima atriz, assim como também é bom ator Maurice Ronet, mas não se pode dizer o mesmo de Alain Delon e de Jane Birkin, quase irreconhecível em sua juventude e noviciado (muito bela e com seus 22 anos, embora interprete uma moça de 18). No todo, um filme bom, mas que poderia ser bem melhor se mais bem aproveitado em seus elementos básicos. Houve uma refilmagem em 2015, com Ralph Fiennes, com o título de A bigger splash (A piscina – um mergulho no passado).   7,8

Shortlink

VIDRO

Sucesso atual do espetacular diretor M. Night Shyamalan, que aqui confirma ter recuperado a velha forma do início da carreira. Importante: penso ser imprescindível se ver antes “Corpo fechado” e “Fragmentado”, não só porque se trata de uma trilogia (intenção revelada pelo diretor no final de Fragmentado), mas para se compreender o sentido da maior parte dos fatos, embora um ou outro aspecto tenha uma complexidade à primeira vista difícil de compreender. O roteiro é muito bem articulado e desenvolve suas amarras em torno dos quadrinhos, dos heróis e vilões e das sombras em que os superpoderes e os superpoderosos se escondem, sendo uma espécie de lenda para o homem comum, transportando o espectador para um universo fascinante e repleto de mistério e tensão. Todas as cenas fazem sentido e se completam, embora a parte inicial do filme seja morna em alguns trechos. Mas quando o filme esquenta, sai de baixo! Os personagens são fabulosos: o de Samuel L. Jackson, obstinado, mental, vaidoso e  a firma convicção de que as histórias em quadrinhos são a mais poderosa fonte de história da humanidade, mas temos também novamente o prazeroso contato com as diversas e fascinantes personalidades interpretadas magnificamente por James McAvoy e com o misterioso vigilante (que nega conhecimento à sua extraordinária força) interpretado por Bruce Willys, o ator mais frequente nas obras desse cineasta, que também concebe e escreve seus filmes, extremamente originais, densos, violentos e que neste caso em sua parte final causa sensações impressionantes no espectador com as maravilhosas e impactantes cenas que se sucedem. No epílogo do filme  realmente resplandece a genialidade do diretor, que oferece realmente um trabalho extraordinário também na edição, interpretação, som, trilha, enfim, um fechamento coerente e também surpreendente (o velho mestre…)  da trilogia – sou fã e, portanto, suspeito – e que eleva definitivamente o nome de Shyamalan entre os grandes diretores do cinema, de todos os tempos.  9,4

Shortlink

FRAGMENTADO

O único senão deste filme para mim é que já vi outros anteriormente e com o mesmo tema. É lógico que nenhum deles teve a consistência e a amplitude que aqui nos oferece o fantástico diretor M. Night Shyamalan. Que à temática ainda acrescenta seus ingredientes absolutamente pessoais, de originalidade, suspense, trilha sonora, movimento e enquadramento de câmeras e neste caso uma interpretação extraordinária do ator James McAvoy, diante da dificuldade dos múltiplos personagens que desempenha. A atriz Anya Taylor-Joy é também uma surpresa bastante agradável, dando expressiva densidade dramática à sua atuação, a ponto de em algumas cenas realmente emocionar/impactar o espectador. De todo modo, embora não atinja o nível dos dois primeiros filmes do diretor (mestre em criar climas), é um ótimo filme de suspense e com uma parte final sensacional. E no epílogo, os poucos segundos de participação de Bruce Willys fornecem o “gancho” para sabermos que se trata de uma trilogia iniciada com “Corpo Fechado” e que vai encerrar justamente com o filme que está atualmente em cartaz nos cinemas, “Vidro”.  8,6

Shortlink

CORPO FECHADO

Um filmaço de suspense (com alguns momentos de legítimo arrepio) do diretor de O sexto sentido, M. Night Shyamalan. Estrelado por Bruce Willys, Samuel L. Jackson e Robin Wright, foi o segundo filme de sucesso do diretor e iniciou uma trilogia continuada por Fragmentado (Split) e Vidro, atualmente nos cinemas. Os filmes desse diretor possuem elementos especiais, um jeito único de mostrar os fatos e provocar sentimentos e emoções, além de apresentar histórias boas e originais, repletas de ótimas sacadas cinematográficas. É um mistério o que vai acontecer na cena seguinte e a tensão permeia todo o filme. O roteiro aqui é interessantíssimo e se entrelaçam relações em crise, paternidade, histórias em quadrinhos, heróis que se opõem nos poderes e fraquezas, desastres, assassinato…enfim, mais uma viagem cinematográfica propiciada pelo diretor, que em muitas cenas talvez deixe clara sua profunda admiração por Alfred Hithcock: e, de fato, em muitos aspectos do filme faz por merecer a comparação.   9,4

Shortlink

MINHA VIDA EM MARTE

Depois de “Os homens são de Marte…e é para lá que eu vou”, de 2014, a diretora Susana Garcia repete a dupla e o gênero, mas aqui com uma maior inspiração: tanto de roteiro (baseado em obra pessoal da excelente Mônica Martelli, a protagonista), quanto de interpretação, basicamente pela extraordinária empatia entre a atriz citada e seu parceiro Paulo Gustavo, que tem um desempenho também espetacular, ambos compondo personagens engraçadíssimos e que provocam risos e gargalhadas o filme todo. Também trabalha no filme o ótimo ator Marcos Palmeira, que no caso faz o marido da personagem de Mônica. Na parte final do filme, uma surpresa no desenlace da história (pelo menos para mim) e também uma homenagem inesperada mas muito importante aos laços da amizade, comparados ao verdadeiro amor. Se fosse para apontar defeitos, poder-se-ia dizer que as “sacadas” constantes e inesgotáveis talvez cansem ou retirem espaço da trama ou do lado carente e feminino que poderiam ser mais desenvolvidos dentro da história de um relacionamento em crise, ou, ainda, que os personagens muito semelhantes com o ator e a atriz na vida real retirem deles um pouco do valor…mas são detalhes e que acabam se desvanecendo diante do conjunto da obra. Pois o fato é que é uma das melhores comédias brasileiras dos últimos anos (senão a melhor) e que tem o mérito de nos fazer rir a maior ou grande parte do filme, apresentando um ritmo ágil e um texto inteligente e criativo, o que não é nada pouco.  9,0

Shortlink

UMA ENTREVISTA COM DEUS

Tendo coberto jornalisticamente a Guerra do Afeganistão e enfrentando também sérios problemas de relacionamento, o personagem interpretado por Brenton Thwaites (ator australiano, mais conhecido pela personificação de Dick Grayson na série Titans da DC comics) realiza uma pequena série de entrevistas com um homem misterioso que alega ser Deus (o excelente David Strathairn, de Boa Noite, boa sorte). A dupla entrega excelentes performances e os diálogos são realmente instigantes, polêmicos e corajosamente enfrentam questões difíceis, algumas transcendendo os tempos ao discutirem a existência ou inexistência da divindade, bem como a finalidade de tal existência diante do livre arbítrio. Diálogos rápidos, afiados, filosóficos… e circunscritos a eles – sem perder a vinculação, porém – os dramas do dia a dia, tudo despertando bastante atenção e prendendo definitivamente o espectador. Não é, talvez, uma abordagem tão aprofundada quanto poderia ser e o filme acaba fazendo algumas concessões quando se distancia do foco principal, mas sem dúvidas é uma obra subestimado, porque é muito mais interessante do que a cotação que tem recebido como média nos mais variados contextos (nota 5,7 no IMDB, por exemplo). 8,5

Shortlink

GREEN BOOK

Baseado em fatos reais, este drama estadunidense concorreu a vários Globo de Ouro: Melhor filme musical/comédia, Melhor ator em filme musical/comédia (Viggo Mortensen), Melhor ator coadjuvante em filme musical/comédia (Mahershala Ali), Melhor diretor (Peter Farrelly) e Melhor roteiro. E ganhou o Globo de Ouro de filme, ator coadjuvante e roteiro! E Mahershala repetiu o prêmio no Critic´s Choice Awards! Dizem as más línguas que em razão de problemas políticos/ideológicos de seus realizadores, o filme vai ficar de fora do Oscar. Será um pena, porque tem grande qualidade. É praticamente um road movie, percorrendo grande parte dos EUA e enaltecendo sua cultura e suas belezas. E em meio a isso temos um pianista clássico conservador e um motorista contratado por ele, de origem italiana e sem qualquer compostura ou cerimônia, em uma convivência que vai naturalmente propiciar muitas trocas e recíproco aprendizado, além de quem sabe render uma boa amizade. O fato é que Viggo é a força-viva do filme e entrega uma interpretação estupenda, embora Mahershala por sua vez, comece tímido mas vá crescendo ao compor um personagem contido e difícil, mas que cresce assustadoramente e inclusive protagoniza uma das mais belas e tocantes cenas do filme (na chuva à beira do asfalto). Porque a época é de segregação e o racismo anda à solta nos anos 60. Tanto, que o título do filme se refere a um guia onde são catalogados hotéis e restaurantes que aceitam afro-americanos. Sensível, emocionante e profundo, embora tocado com leveza, o filme traz belas lições, belas músicas (a cena do bar é magnífica) e sua parte final é maravilhosa, enchendo de beleza todos os corações, o que dentro do contexto significa ser otimista por um futuro que talvez irá existir, sem diferenciar sexos, cores, raças… 9,0

Shortlink

UM LUGAR SILENCIOSO (A QUIET PLACE)

O filme acaba de ganhar o Critic´s Choice Awards de Melhor filme ficção/terror de 2018. E com seus méritos. A ideia é muito interessante e a realização extremamente competente, ainda mais considerando que seu idealizador e diretor também atua, como chefe da família (John Krasinski), e tendo ao lado sua esposa na vida real (Emily Blunt). Todos com ótimas performances, inclusive as crianças. Mas o forte do filme é o clima permanente de suspense e tensão. Os primeiros dez minutos já são brilhantes e a introdução deixa o espectador preparado e ansioso pelo que haverá de vir. E impressiona, de fato, que um roteiro simples e um filme sem diálogos consiga envolver o espectador dessa forma. Trata-se de um mundo depois do apocalipse, invadido por seres cegos e que atacam violentamente quando percebem emissões de som. Do meio para o final, quando aumenta a tensão, resplandece a qualidade do som e a trilha sonora passa a ser espetacular, imprescindível, elevando suspense ao máximo patamar, inclusive de forma quase insuportável em algumas cenas. Dentro do gênero (ficção/suspense/terror), realmente um filmaço e para os mais medrosos um excelente teste para os nervos.  8,8

Shortlink

PRIMER

Como bons seguidores de alguns dos grandes nomes da ciência/informática, os personagens aqui são inventores de garagem, atividade que exercem na casa de um deles, paralelamente à profissão de cada um. O estilo da filmagem combina com isso, parecendo meio amadora. Não há nada daqueles aparatos comumente vistos em filmes de ficção científica, com máquinas e luzes, ordenados e funcionando sistematicamente. E vê-se que os quatro homens (inicialmente, depois apenas dois aprofundam a busca) tentam descobrir novidades que possam interessar/inovar o mercado a qualquer custo, utilizando sucata, material barato e de origem mais fácil e rápida, mas com a ajuda de seus conhecimentos específicos tecnológicos/científicos, os quais incluem física elevada etc. O espectador vai ter que tentar acompanhar os fatos, sem perder detalhes e o fio da meada, o que no início – embora estranho, porque os diálogos são lacônicos e nada didáticos – não é tão complicado, mas o desenrolar do filme vai mostrar que se trata de uma tarefa hercúlea. Os projetos em andamento parecem às vezes meio “gambiarra”, outras vezes promissores, mas a capacidade do grupo (ou da dupla) aparenta ser inquestionável e a trilha sonora cria um suspense bem adequado às expectativas. O filme dá a impressão de que o roteiro tem total embasamento científico, inclusive porque ganhou o Festival de Sundance de 2004, o que é um indício de seu mérito, afinal. Mas a ação transcorre sem muita novidade, até que alguma coisa acontece e os dois amigos se veem diante de algo que acreditam seja grandioso. A partir daí, o filme envereda por caminhos mais complexos e das duas uma: ou se torna fascinante para o espectador, que deseja resolver os mistérios e ir encaixando as peças complicadas – até podendo se colocar no fascinante lugar de um cientista que de repente inventa algo inusitado – ou  se torna um tédio absoluto, pela falta de compreensão (progressiva) sobre os fatos que estão ocorrendo. A dificuldade de entendimento da história obviamente desestimula. De minha parte, já vi o filme duas vezes e não consegui compreender bem certas coisas e nada entendi de outras. Fico até em dúvida sobre se a maior parte das pessoas terá condições para absorver todas as sutilezas e criar um sentido lógico nas coisas. De todo modo, o filme foi premiado e é polêmico. O diretor e roteirista é o mesmo ator que interpreta o Aaron, Shane Carruth.    7,8

Shortlink

A FAVORITA

Em um belo trabalho de reconstituição de época, iluminação e fotografia, brilha o trio Olivia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz, com os personagens das duas últimas mostrando esforços para ganhar o favoritismo da rainha Ana (interpretada pela primeira), ao mesmo tempo em que a soberana, instável emocionalmente, doente de corpo e com cara de permanente enfastio, exercia o comando absoluto do reino poderoso da Inglaterra do século 18, colocando sob sua autoridade os estrategistas, os sensatos, enfim todos os súditos, cujo dever de obediência era indeclinável, embora oscilando as ordens conforme o humor real e por isso mesmo colocando muitas vezes em risco a ordem vigente e as relações de paz, guerra, conquistas e defesa. O filme lembra um ou outro de época de sucesso, pelo permanente clima de sedução e intriga (muito valorizado pela trilha sonora), mas aqui com interesses pessoais diferentes dos da mera vaidade, em um jogo estratégico cuidadosamente elaborado. Há, porém, não apenas o retrato da opulência da Corte, mas muitas críticas/humor negro e sutilezas, as quais inclusive se revelam pelos próprios ângulos de câmera e as lentes utilizadas sob comando do excelente e geralmente não-convencional diretor grego Yórgos Lánthimos (O lagosta, O sacrifício do cervo sagrado). As três atrizes foram indicadas ao Globo de Ouro, tendo Olívia Colman vencido na categoria de Melhor atriz em Comédia ou Musical. Além disso, o filme também foi indicado nas categorias de Melhor Comédia ou Musical e Melhor Roteiro de Comédia ou Musical. Durante os créditos finais uma surpresa: Skyline Pigeon de Elton John executada com um belíssimo e inusitado arranjo medieval.  8,8

Shortlink

ACREDITE EM MIM – O RAPTO DE LISA MC VEY

Um telefilme baseado em fatos reais e extremamente bem feito, parecendo quase um documentário. Katie Douglas tem uma ótima/memorável atuação e o filme retrata fatos que realmente parecem inacreditáveis, pela maneira como ocorreram. Alguns deles efetivamente impressionantes. À medida em que o filme vai avançando a atenção do espectador passa a ficar refém da ação, havendo inclusive alguns momentos de grande emoção, principalmente na parte do meio para o final. Foi feito para a TV e no início é interessante que não se espera muito dele, mas acaba realmente surpreendendo, com uma história recheada de ótimos ingredientes de drama, mistério e suspense policial.  8,4