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INDICADOS AO OSCAR 2024 (que acontecerá em 10 de março de 2024)

INDICADOS AO OSCAR 2024 (indicação de 23 de janeiro de 2024)

MELHOR FILME

  • American Fiction
  • Barbie
  • Zona de interesse
  • Os Rejeitados
  • Assassinos da lua das flores
  • Oppenheimer
  • Maestro
  • Vidas Passadas
  • Pobres Criaturas
  • Anatomia de uma queda

      • MELHOR ATOR

  • Bradley Cooper (Maestro)
  • Colman Domingo (Rustin)
  • Paul Giamatti (Os Rejeitados)
  • Cillian Murphy (Oppenheimer)
  • Jeffrey Wright (American Fiction)

      • MELHOR ATRIZ

  • Lily Gladstone (Assassinos da lua das flores)
  • Sandra Hüller (Anatomia de uma Queda)
  • Carey Mulligan (Maestro)
  • Annette Bening (Nyad)
  • Emma Stone (Pobres Criaturas)

      • MELHOR ATOR COADJUVANTE

  • Sterling K. Brown (American Fiction)
  • Robert DeNiro (Assassinos da lua das flores)
  • Robert Downey Jr. (Oppenheimer)
  • Ryan Gosling (Barbie)
  • Mark Ruffalo (Pobres Criaturas)

      • MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

  • Emily Blunt (Oppenheimer)
  • Danielle Brooks (A Cor Púrpura)
  • America Ferrera (Barbie)
  • Jodie Foster (NYAD)
  • Da’vine Joy Randolph (Os Rejeitados)

      • MELHOR SOM

  • The Creator
  • Maestro
  • Missão impossível
  • Zona de interesse
  • Oppenheimer

                   MELHOR DIREÇÃO

  • Justine Triet (Anatomia de uma queda)
  • Yorgos Lanthimos (Pobres Criaturas)
  • Christopher Nolan (Oppenheimer)
  • Jonathan Glazer (Zona de interesse)
  • Martin Scorsese (Assassinos da lua das flores)

      • MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

  • Anatomia de uma queda
  • Os rejeitados
  • Maestro
  • Vidas passadas
  • Segredos de um escândalo
      • MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

  • Greta Gerwig e Noah Baumbach (Barbie)
  • Cord Jefferson (American Fiction)
  • Tony Mcnamara (Poor things)
  • Christopher Nolan (Oppenheimer)
  • Jonathan Glazer (Zona de interesse)

      • MELHOR FOTOGRAFIA

  • Matthew Libatique (Maestro)
  • Rodrigo Prieto (Assassinos da lua das flores)
  • Robbie Ryan (Pobres Criaturas)
  • Edward Lachman (El Conde)
  • Hoyte van Hoytema (Oppenheimer)

                   MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

  • Ruth De Jong, Claire Kaufman (Oppenheimer)
  • Jack Fisk, Adam Willis (Assassinos da lua das flores)
  • Sarah Greenwood, Katie Spencer (Barbie)
  • James Price, Shona Heath, Szusza Mihalek (Pobres Criaturas)
  • Arthur Max, Elli Griff (Napoleão)

      • MELHOR EDIÇÃO

  • Laurent Sénéchal (Anatomia de uma queda)
  • Jennifer Lame (Oppenheimer)
  • Yorgos Mavropsaridis (Pobres Criaturas)
  • Thelma Schoonmaker (Assassinos da lua das flores)
  • Kevin Tent (Os rejeitados)

      • MELHOR FIGURINO

  • Jacqueline Durran (Barbie)
  • Ellen Mirojnick (Oppenheimer)
  • Holly Waddington (Pobres Criaturas)
  • Jacqueline West (Assassinos da lua das flores)
  • Janty Yates, David Crossman (Napoleão)

      • MELHOR CABELO E MAQUIAGEM

  • Golda
  • Sociedade da neve
  • Oppenheimer
  • Maestro
  • Pobres criaturas

              MELHORES EFEITOS VISUAIS

  • Resistência (The creator)
  • Guardiões da Galáxia Vol. 3
  • Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1
  • Napoleão
  • Godzilla Minus One

      • MELHOR ANIMAÇÃO

  • The Boy and the Heron
  • Elemental
  • Nimona
  • Homem-Aranha Através do Aranhaverso
  • Robot dreams

                   MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

  • io capitano
  • The teacher´s lounge
  • Perfect Days
  • Sociedade da Neve
  • Zona de interesse

                   MELHOR CANÇÃO

  • I´m just Ken” (Barbie)
  • The fire inside (Flamin´Hot)
  • It never went away” (American Symphony)
  • Wahzhazhe” (Assassinos da lua das flores)
  • What Was I Made For” (Barbie)

      • MELHOR TRILHA SONORA

  • Pobres criaturas
  • Oppenheimer
  • American fiction
  • Indiana Jones
  • Assassinos da lua das flores
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ASSUNTO DE FAMÍLIA (SHOPLIFTERS)

O

Os filmes do diretor Hirokazu Kore-eda são singulares: possuem muita humanidade, são extremamente bem feitos em todos os sentidos, apresentam ângulos originais de situações comuns, belos momentos de pessoas e de situações e também surpresas em seu roteiro, que inicia na mansidão mas posteriormente a subverte. Talvez para questionar o que é, afinal, a felicidade e o que é certo e o que é errado neste mundo. No caso, o tema é como o próprio nome indica: familiar. Trata-se de uma família pobre, numerosa inclusive considerando limitado espaço e parte dela trabalha fora – em atividades moralmente questionáveis – para sustentar o todo. Família que inesperadamente vai aumentar. E eis o foco principal da história! Que envolve o jogo da sobrevivência ou da própria educação ou mesmo do sistema imposto. E também resgata a milenar questão: mãe é quem gera ou quem cria? O fato é que mesmo nas condições precárias de subsistência assim todos lutam, se adaptam e os sinais evidentes são de união, amor, amizade e afeto. Mas, como já dito, a estabilidade não dura para sempre e tempestades haverá, para exigir talvez desse núcleo aparentemente sólido a resposta social desejada. E provocar abalos inesperados. Kore-eda mostra a afetividade familiar e a educação caseira (que substitui, com justificativa apresentada, a escolar) em pequenos e até líricos detalhes e a questão é a percepção dessa realidade diante do que a sociedade espera, mas, por outro lado, do que esse modo de viver propicia a todos, sob o ponto de vista de benefícios, de crescimento, formação, visão ampla das coisas. Meios inadequados mas para um fim maior? É um filme bonito, comovente, profundo e bem realizado, com muito coração e conhecimento de causa. Entretanto, embora todo esse mérito, ele parece fugir do perfil daqueles que usualmente são premiados em Cannes, sendo, de certa forma, surpreendente ter ganho a Palma de Ouro em 2018. 8,7

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O TERCEIRO ASSASSINATO

Um thriller policial de 2017 (e em parte “filme de tribunal”) dirigido pelo magistral cineasta japonês Hirokazu Kore-eda (Monstro, Pais e filhos, Assunto de família), premiado e indicado a diversos prêmios (como Veneza, 2017) e que tem no elenco Masaharu Fukuyama (Pais e filhos), Kôji Yakusho (melhor ator em Cannes 2023 por “Perfect days”, de Wim Wenders) e Suzu Hirose (atriz e modelo japonesa), entre outros. Fukuyama, aliás, apesar de ser um excelente ator e parecer ter total domínio e experiência nessa arte, é na verdade um ídolo mas da música, fazendo grande sucesso na mídia musical do Japão, como compositor e cantor daqueles de lotar estádios. Aqui temos um filme investigativo, que além do mérito de fazer o espectador ir acompanhando passo a passo os fatos e tentar ir com isso desvendando todos os mistérios, tem também o de repentinamente virar o jogo, apresentando ingredientes que mudam totalmente o rumo da história, formando um redemoinho de possibilidades e gerando sensíveis dúvidas, sobre qual, afinal, é a verdade dos acontecimentos. Depoimentos e versões contraditórias retiram totalmente a segurança de um caminho que parecia seguro ao espectador, assim como também a alguns dos personagens envolvidos, que por sinal dão total dignidade tanto à advocacia quanto aos próprios institutos culturais do Japão, embora haja pontos incômodos de contato com a civilização ocidental (a corrupção de bastidores), que o filme enfoca ao nos colocar diante de importantes questões que aqui sintetizo em duas frases: “Quem, afinal, decide quem será acusado?”, “O juiz faz o que quer com as pessoas”. Um filme instigante, interessante, muito bem interpretado e dirigido, com todos os demais elementos cinematográficos agregados para, mais uma vez, referendar o cinema de qualidade desse diretor. Há mais na tela que simples imagens e que revelam a delicadeza e a singeleza das obras de Kore-eda, como a do vidro que separa o advogado do presidiário e que com o desenrolar do filme e dos fatos vai se transformando de obstáculo instransponível até uma fusão bela e significativa de rostos e almas.  E na última cena, o emaranhado de fios que o advogado contempla reflete muito bem os nossos sentimentos. 8,9

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SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO

Todd Haynes é um perfeccionista na direção de filmes, bem como de atores e atrizes, sendo também bastante original nos temas que abraça, ou, pelo menos, na maneira de mostrá-los. Ao terminarmos um filme dele, saberemos com certeza que por ali transitou o pulso firme de um competente cineasta. São dele, por exemplo, filmes como A última aventura de Robin Hood, The velvet underground, Carol e Longe do paraíso). Neste filme em que o trio de protagonistas efetivamente brilha – Julianne Moore, Charles Melton e principalmente Natalie Portman, que está maravilhosa -, vemos uma adaptação de fatos do mundo real e que chocaram os Estados Unidos, com o envolvimento de um aluno de 13 anos e sua professora de 36 anos, que acabou engravidando dele (e depois se casaram). Não é um spoiler, porque em 5 minutos de filme isso já fica claro, já que a história gira justamente em torno desse fato décadas depois e da visita à família pela atriz que fará o papel da ex-professora em um filme a ser lançado e que está ali para fazer o famoso “laboratório”, muito comum para atores e atrizes, que convivem um tempo com situações que irão personificar, não sendo tão habitual com personagens ainda vivos, mas representando esse fato uma grande oportunidade – e que terá um significado muito especial na última cena do filme -, pois a pesquisa será feita diante de quem vivenciou os fatos. Só que essa convivência, que vasculhará o passado, provocará decorrências e desdobramentos, cutucando temas já adormecidos e que poderão ser incômodos, não será um mar de rosas, havendo tensão no mínimo implícita durante todo esse curto relacionamento. Todas as sutilezas dessa relação invulgar e inesperada aparecem na tela, deixando inclusive o espectador com certo desconforto e sendo, ainda, recheadas muitas vezes de ironia em face da hipocrisia reinante. O roteiro aqui procura olhar com olhos diferentes os fatos sensacionalistas da mídia, para tanto invadindo de forma resoluta (não sem oposições) a intimidade dos personagens, que têm o seu lado subterrâneo subitamente iluminado, mesmo a contragosto. Há cenas de sair faísca, como se diz, e outras em que os diálogos são tão agudos quanto as imagens. Segredos e vaidades afloram, à medida em que Elizabeth imerge nos fatos e se insere no universo íntimo da professora, do atual marido (e que era o menino seduzido – ou sedutor?) e dos demais envolvidos (como o marido da época e os filhos), revelando também facetas ocultas de todos: a sensualidade que deliberadamente provoca da atriz, a fragilidade de um pai de família que de repente começa a questionar todo o contexto, o momento delicado da família, inclusive pela saída dos filhos e assim por diante. O filme (drama denso e, portanto, para certos gostos) tem recebido prêmios e sido indicado em premiações importantes (como Cannes 2023 e o recente Globo de Ouro, onde concorreram todos os três protagonistas e mais o filme, na categoria de Melhor comédia ou musical), cogitando-se que inclusive terá algumas nomeações para o Oscar 2024. 8,8

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MONSTRO (KAIBUTSU)

Uma produção japonesa de alta qualidade e que não à toa ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes 2023. Mas além do mérito do inteligente roteiro (que não contém uma narrativa linear e não se limita a mostrar apenas um ponto de vista sobre os mesmos fatos), tanto a direção, edição, como a performance de todo o elenco, inclusive adolescente, são de alto nível. Como dizem os orientais: tudo em perfeito equilíbrio! Realmente um filme extremamente original em sua estrutura e narrativa, que é ao mesmo tempo sensível, delicado e impactante em seus vários e perturbadores temas, sendo realmente notável a capacidade do diretor Hirokazu Kore-eda (Assunto de família, O terceiro assassinato, Pais e filhos, Depois da vida) desenvolver o intricado roteiro e, em meio às tensões e mistérios, ir apenas aos poucos nos mostrando a realidade e nos provocar algumas dúvidas (considerada a complexidade dos sentimentos envolvidos) e muitas reflexões, principalmente sobre prejulgamentos. Como é bom respirar oxigênio totalmente novo em se tratando de cinema e também testemunhar tanto a consolidação de um cineasta já com respeitável currículo, como o nascimento de talentos juvenis que certamente apenas se fortalecerão em futuro próximo. E que ótimo também experimentar modos diferentes de abordar fatos já conhecidos, neste caso com todos os ingredientes do bom cinema, não podendo também deixar de ser enaltecidos a fotografia e a trilha sonora, que por sinal foi a derradeira do músico Ryuichi Sakamoto, falecido há menos de um ano. O filme foi incluído no gênero thriller dramático, mas é muito mais do que isso, além de ser uma prova de que a verdade que se vê, de repente pode ser perfeitamente uma bela e convincente miragem. 9,2

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A SÍNDROME DO TABULEIRO CINEMATOGRÁFICO – artigo

A SÍNDROME DO TABULEIRO CINEMATOGRÁFICO

(artigo de janeiro de 2024)

Qualquer um que contemple ou manuseie um tabuleiro de xadrez (que é o mesmo do jogo de damas), perceberá ser possível colocá-lo em duas posições diferentes: em uma delas, a casa branca ficará à direita de ambos os jogadores; na outra, a casa preta é que ocupará a posição extrema direita.

Apenas uma delas está correta.

Todos aqueles que começarem a jogar xadrez, aprenderão, desde cedo e como requisito fundamental, que para serem colocadas as peças, primeiro o tabuleiro deve estar posicionado com a casa branca à direita: se o tabuleiro for montado com a casa preta à direita, ocorrerá um absurdo, uma heresia enxadrística, uma afronta ao jogo, a seus princípios e regras e a todos os que o apreciam e exercitam. Erro crasso, como se diz por aí.

Pois bem. Não é de hoje que, mesmo como jogador médio de xadrez, observo no cinema (e até em séries de TV) uma completa desatenção com esse elemento fundamental do jogo/arte/ciência (como alguns o chamam), já tendo flagrado em diversos filmes o tabuleiro montado de forma incorreta. E o pior é que são filmes de gente famosa e acostumada à atenção aos detalhes, ao perfeccionismo, sendo muito estranho e até imperdoável um descuido de tal natureza. É como se retratassem um jogo de futebol, com 12 jogadores para cada lado.

Cito como exemplo de tabuleiro montado de forma incorreta dois filmes conhecidos, mas tem muitos mais (é só pesquisar e prestar atenção):

O SÉTIMO SELO, de 1957, é um dos mais festejados e premiados filmes do grande diretor sueco Ingmar Bergman. Sua história envolve justamente um presumivelmente experiente jogador de xadrez, que desafia a morte para uma partida. Lamentavelmente, o tabuleiro aparece invertido em uma das cenas, o que implica dizer que todas as peças estão colocadas de forma errada e que seria impossível dois jogadores, mesmo iniciantes, sequer começarem a jogar uma partida, com o tabuleiro assim disposto, quanto mais se debruçarem em uma disputa séria e aguerrida;

A DIAGONAL DE FOU, de 1984, de Richard Dembo, é um filme franco-suiço, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1985. Sua trama reside na disputa do campeonato mundial de xadrez por dois russos, sendo um deles o detentor do título mundial e o outro um dissidente soviético/exilado, sugerindo tratar-se de uma livre adaptação da verdadeira história protagonizada por Karpov e Korchnoi em 1978. Quando o desafiante está treinando na piscina para a segunda partida, o tabuleiro está montado também de forma invertida, o que obviamente seria impossível – e até jocoso – para um jogador de xadrez daquela estatura.

Esses fatos revelam um total desleixo dos participantes/responsáveis dos filmes – principalmente os diretores – com o xadrez e sua configuração básica, o que se agrava mais ainda pelo fato de que nos dois exemplos o jogo é justamente a base argumentativa.

Sob tal foco, principalmente para os apreciadores de xadrez, mas também para os cinéfilos mais atentos e exigentes, o descaso passa de negligência para erro praticamente indesculpável e que efetivamente retira pelo menos parte do mérito que esses filmes alcançaram. Pelo menos na visão de um apaixonado pelo cinema e pelo xadrez.

Nadal

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DEUS SABE QUANTO AMEI (SOME CAME RUNNING)

Uma típica comédia dramática dos anos 50, produzida em 1958 e dirigida pelo grande Vincent Minelli (Sinfonia de Paris, Assim estava escrito, Gigi, Adeus às ilusões, Sede de viver), pai dos musicais modernos, retratando os costumes e hipocrisias dos anos 50 nos EUA, incluindo preconceitos, machismo e as repressões já conhecidas: por baixo do verniz, muita coisa se esconde (no caso, em Parkman, Indiana, onde a história se passa). Mas o encanto deste filme, além de sua interessante história, de seu exuberante visual (CinemaScope) e de seu conceituado diretor, é o trio de protagonistas, simplesmente constituído por Shirley MacLaine, Frank Sinatra e Dean Martin, o que é um fato extremamente prazeroso para os fãs de cinema. Sinatra já era cantor de prestígio na época (por sinal, um dos maiores artistas de todos os tempos, com mais de 150 milhões de discos vendidos), também ganhando louros na sétima arte a partir de 1953, quando foi premiado com o Oscar de Ator coadjuvante pelo filme A um passo da eternidade. Dean Martin também era afamado cantor e no cinema ficou famoso a partir de 1950 pela longa parceria nas comédias com Jerry Lewis (17 filmes), tendo tanto extensa discografia, como filmografia: aliás, com Sinatra ele fez 6 filmes, com MacLaine, 7. Este filme concorreu a 5 Oscars: figurino, canção (To love and be loved), atriz coadjuvante (Martha Hyer, a miss French), ator coadjuvante (Arthur Kennedy) e atriz (Shirley MacLaine). Aliás, Shirley teve um desempenho inesquecível para uma personagem tão difícil quanto importante, embora tivesse apenas 24 anos na época: na verdade, ela havia estreado três anos antes no cinema com o filme O terceiro tiro, de Hitchcock e já ganhou o Globo de Ouro como atriz revelação, depois feito A volta ao mundo em 80 dias e anos depois brilhado novamente em Se meu apartamento falasse e Irma la Douce, entre outros. Curiosamente, Frank Sinatra e Martha Hyer foram os únicos premiados por este filme, com o troféu Laurel Awards e fora os citados também atua muito bem em seu papel de Edith, Nancy Gates. O filme tem alguns probleminhas de roteiro (fatos apressados, montagem que parece mal feita às vezes), mas no todo apresenta um bom e atraente ritmo e constitui um agradável entretenimento. Chama também a atenção a parte final, que contraria totalmente a mansidão mantida durante todo o seu desenvolvimento, inclusive com a frenética trilha sonora acompanhando o apoteótico desenrolar dos fatos. No todo, o filme representa um retrato de seu tempo, com personagens bem característicos, algumas passagens importantes  – como a fala da professora conservadora aos seus alunos e a conversa que se seguiria, entre ela e a moça “torta”; como a conversa entre esta última, Ginny, e o preconceituoso e “cego” Dave –  e um panorama que pretendeu representar boa parte da sociedade americana pós-guerra. 8,5

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CRITICS CHOICE AWARDS (14 de janeiro de 2024) – CINEMA – VENCEDORES

CRITICS CHOICE AWARDS 2024 – CINEMA – vencedores

FILME

Oppenheimer

ATOR

Paul Giamatti (Os rejeitados)

ATRIZ

Emma Stone (Pobres criaturas)

ATRIZ COADJUVANTE

Da´vine Joy Randolph (Os rejeitados)

ATOR COADJUVANTE

Robert Downey Jr. (Oppenheimer)

JOVEM ATOR/ATRIZ

Dominic Sessa (Os rejeitados)

ELENCO

Oppenheimer

DIREÇÃO

Christopher Nolan (Oppenheimer)

ROTEIRO ORIGINAL

Barbie

ROTEIRO ADAPTADO

American Fiction

FOTOGRAFIA

Oppenheimer

DIREÇÃO DE ARTE

Barbie

EDIÇÃO

Oppenheimer

FIGURINO

Barbie

CABELO E MAQUIAGEM

Barbie

EFEITOS VISUAIS

Oppenheimer

COMÉDIA

Barbie

ANIMAÇÃO

Homem-aranha através do aranha-verso

FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

Anatomia de uma queda

CANÇÃO

I`m jus Ken

TRILHA SONORA

Oppenheimer

SEE HER

América Ferreira

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A SOCIEDADE DA NEVE

O drama do avião que caiu nos Andes em 1972 e o inusitado de como vários passageiros sobreviveram durante quase 1 mês e meio em região inóspita e quase inacessível de neve e gelo é conhecido de grande parte das pessoas e já faz parte da história. Entretanto, a partir dos fatos, basicamente apenas dois filmes foram feitos para tentar relatar os acontecimentos e nenhum deles ficou à altura da tragédia: tanto Os sobreviventes dos Andes de 1976, quanto Vivos de 1993, nenhum conseguiu retratar com sobriedade, realidade e senso de equilíbrio os dramas que ocorreram e que acabaram chocando o mundo. Mas este filme finalmente redime essa lacuna e o faz com a maior dignidade, não somente pelo excelente trabalho de reconstituição de fatos (inclusive com atores assemelhados aos personagens reais), mas por evitar qualquer sensacionalismo ou sentimentalismo barato. Baseado no livro de mesmo nome, de Pablo Vierci, esta produção espanhola perturbadora (e que não é para qualquer espectador, pois exige um pouco de estômago) e que encerrou o Festival de Veneza de 2023 faz finalmente justiça aos fatos e os traz de uma maneira visceral porém o mais próximos possível da realidade, de acordo com os relatos colhidos dos próprios sobreviventes e os documentos da época. O diretor espanhol Juan Antonio Bayona (O impossível) consegue contar com maestria e perfeição de detalhes (abordando as situações de ângulos diferentes, inclusive) uma história dramática e difícil, sobre os acontecimentos do voo 571, da Força Aérea Uruguaia, que transportava entre outros passageiros um time de rugby chileno e que caiu nos Andes no ano de 1972, sendo dado como desaparecido. Por questões diversas, o filme alterou alguns fatos da realidade – que se pode pesquisar na internet a respeito -, mas o único aspecto que poderia ter sido mostrado e não foi, por opção artística provavelmente, foi o do sensacionalismo gerado pelo modo como aqueles passageiros conseguiram sobreviver por 72 dias no meio do nada: notadamente porque o fato, vital, foi de início ocultado da imprensa. Mas esse não pode ser considerado um pecado do filme, repleto de virtudes, notadamente o de trazer finalmente para o cinema uma versão digna de eventos tão terríveis, pungentes, angustiantes e trágicos. E com raro perfeccionismo, pois além de um elenco brilhante, todas as cenas são extremamente  bem feitas, principalmente a da queda do avião e as da parte final, que trazem intensa emoção e que cinematograficamente são magníficas. Desse modo, qualquer prêmio que o filme ganhe será certamente merecido. Netflix. 8,9

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AS OITO MONTANHAS

Um belo e delicado filme italiano (e falado em italiano, co-produção Franco-Belga) de 2022, que tem como tema a amizade, a própria vida, suas buscas e desencontros e, circunscrita à temática, a integração do ser humano com a natureza, o que, aliás, proporciona cenas com visual magnífico dos cenários das altas e geladas montanhas alpinas. O filme mostra a transformação de meninos em homens e sua vinculação principalmente com os pais, no difícil caminho da independência e com no que se torna indissociável e muitas vezes tóxico. A intempérie aqui ocorre externa e internamente. É um filme que leva à reflexão sobre o sentido das coisas e do mundo, no que se refere ao papel de cada um e dos caminhos que cumpre seguir (ou tentar), em busca da felicidade própria e não da que foi escrita, mas latentes as cicatrizes com suas marcas permanentes. A narrativa é lenta, mas esse fato é totalmente compatível – e até necessário – com as mensagens que o filme pretende passar, com roteiro baseado no romance homônimo de Paolo Cognetti. A direção é segura e competente do casal belga Charlotte Vandermeersch e Felix van Groeningen e os protagonistas, igualmente ótimos, são Luca Marinelli (Pietro) e Alessandro Borghi (Bruno). O filme foi ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2022 e seu contexto permite que se extraia dele, como elemento muito mais trágico do que lírico, a feliz expressão observada (ou reprisada) com muita propriedade por José Geraldo Couto em seu blog: “Como já disse alguém, o único paraíso que existe é o paraíso perdido”. 8,8

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NAPOLEÃO

Alguma coisa faltou neste filme, mas não é tão fácil identificar exatamente o quê. Possivelmente sejam várias coisas. Ou ao invés de faltar, sobrou, porque talvez o longa-metragem de duas horas e meia pudesse ser um pouco mais condensado. O fato é que a expectativa era grande, inclusive quanto ao Globo de Ouro e provavelmente ao Oscar, mas o que se esperava de certa forma virou frustração. Não é o que acontece, mas se aguardava um épico inesquecível, afinal o protagonista é Joaquin Phoenix e o diretor Ridley Scott: aquele, magnífico intérprete e ator de personagens inesquecíveis como em Ela, O mestre e Coringa; este, um cineasta dos mais respeitados do cinema, com filmes como os clássicos Blade runner, Alien e Gladiador. Na verdade, o filme está longe de ser ruim, mas efetivamente quebrou algo do que se esperava, quem sabe pela edição e as dificuldades naturais de se colocar na tela de uma forma sintetizada toda uma história envolvendo a Revolução Francesa e a ascensão e queda do mais famoso imperador e general francês: Napoleão Bonaparte. De todo modo, o filme começa muito bem (com cenas vigorosas, iniciando com a da decapitação de Maria Antonieta) e faz um painel interessante da história da França e principalmente de Napoleão, incluindo seu temperamento, sua notável capacidade de agregar exército e admiradores (inclusive pelos seus notórios conhecimentos táticos de guerra, além de seu arrojo) e seu relacionamento conturbado e irregular com a sempre festejada Josefina (interpretada muito bem por Vanessa Kirby, princesa Margaret em The Crown), que, seja como for a história, no filme assume um papel vital na vida de Bonaparte. Na chamada “corrida do Oscar”, o filme foi perdendo fôlego e realmente decepciona um pouco em seu todo, a despeito de apresentar qualidades inegáveis, como grandiosas batalhas, um imperador muito bem forjado e um relacionamento tumultuado e bem delineado com Josefina, que também se faz uma personagem interessante; além dos detalhes técnicos, é claro, elementos inseparáveis das produções de Ridley Scott. Um bom filme e que infelizmente deixa de ser ótimo ou inesquecível, por pecar no desenvolvimento (sem o necessário vigor contextualizado), na montagem e no roteiro com imperfeições. 8,5

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GLOBO DE OURO 2024 (7/8 de janeiro de 2024) – vencedores de CINEMA

   

GLOBO DE OURO 2024 – CINEMA – vencedores

FILME

Oppenheimer

ATOR

Cillian Murphy (Os rejeitados)

ATRIZ

Lily Gladstone (Assassinos da rua das flores)

ATRIZ COADJUVANTE

Da´vine Joy Randolph (Os rejeitados)

ATOR COADJUVANTE

Robert Downey Jr. (Oppenheimer)

DIREÇÃO

Christopher Nolan (Oppenheimer)

ROTEIRO

Anatomia de uma queda

COMÉDIA

Pobres criaturas

ANIMAÇÃO

The boy and the heron

FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

Anatomia de uma queda

CANÇÃO

What was I made for (Billie Eilish O´Connell, Finneas O´Connell (Barbie)

TRILHA SONORA

Oppenheimer

CONQUISTA CINEMATOGRÁFICA E DE BILHETERIA

Barbie

 

 

 

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VINGANÇA A SANGUE FRIO

Analisando o título em português (com a inoportuna e idiota palavra “vingança”) e o nome do “mocinho” (Liam Neeson), já fazemos uma prévia do que será o filme, afinal Neeson já foi “heroi” em diversas produções assemelhadas, onde acontece algum fato chocante e perturbador na vida pessoal do personagem, que em seguida, imbuído de um instinto e espírito de vingança, aliado ao seu treinamento especializado e à sua coragem e destreza, sai em perseguição desenfreada aos culpados pelos atos criminosos. Sempre com muito suor, sangue, violência, tiros, socos, perseguições, perigos inesperados etc, culminando com a esperada vitória do bem sobre o mal, embora sempre a duras penas. Só que aqui esse raciocínio não se aplica inteiramente. Embora estejam presentes, sem dúvida, vários dos elementos de sempre, típicos dos filmes de ação desse ator, aqui existe um diferencial, um refinamento totalmente inesperado: o senso de humor. O filme tem bom humor e várias situações que normalmente seriam pesadas aqui são atenuadas pela leveza do texto ou da própria ação. E temos, então, algo que pode ser até classificado em parte como comédia. Esse fator efetivamente diferencia o filme dos demais do gênero e o torna uma experiência bem agradável, porque ao fugir do lugar comum além de nos divertir, nos coloca sempre na espectativa do que virá. Ponto para o diretor Hans Petter Moland, que já nos havia apresentado uma situação levemente semelhante e também com muita ironia no ótimo filme O cidadão do ano (de 2014, com Stellan Skarsgärd), tendo também dirigido o premiado Os cavalos roubados, filme também de 2019. Aqui, como sempre, apesar do bom elenco e até mesmo da presença da ótima Laura Dern, embora em um papel bem modesto, o brilho todo se dá por conta do desempenho carismático de Neeson, absolutamente talhado para esse tipo de papel. Produção Netflix, boa diversão. 8,5

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O LEITOR

Logo ao início já fica claro que as memórias do personagem masculino (que é advogado e interpretado pelo ótimo Ralph Fiennes) serão essenciais no enredo. Aliás, são retratos importantes da adolescência de um menino, ainda mais nos anos 50 e envolvendo os chamados ritos de passagem. Porém à medida em que o ótimo roteiro adaptado vai nos conduzindo, o desenrolar dos fatos e a época trazem peso e drama aos acontecimentos. E o filme, assim, nos brinda com grandes e intensos momentos de emoção, que vão permear todo o seu ótimo desenvolvimento. As cenas sensuais e bastante despojadas do início dão lugar a outras igualmente pungentes, mas de outra e perturbadora natureza. E será difícil permanecermos insensíveis diante das consequências que virão. Além do maravilhoso roteiro e da bela fotografia, a elevada qualidade deste filme se deve a dois fatores: à competente e sensível direção de Stephen Daldry (As horas, Billy Eliot) e à atuação do elenco, principalmente de Kate Winslet, que entrega uma performance simplesmente sublime e que lhe valeu o Oscar de Melhor atriz no ano seguinte ao do lançamento (2009). O filme também concorreu nas categorias de Melhor filme, Diretor, Roteiro adaptado e Fotografia. E, à parte o brilho fulgurante de Kate, também se destacam Fiennes, David Kross e Bruno Ganz, havendo também uma especial participação da sempre marcante Lena Olin. Um filme poderoso e ao mesmo tempo delicado, ao enfrentar uma temática difícil e que indiretamente nos atinge fortemente com os horrores da guerra, tanto no tema e nos relatos, como em algumas imagens, especialmente as de um campo de concentração, em uma cena específica, longa e dolorosa. Uma obra que fala de nostalgia, de família, da vida, da guerra, de amor (muito !) e de culpa, mas sem cair nos estereótipos costumeiros. O maniqueísmo aqui torna-se algo a ser repensado e cabe a cada um, de um modo especial, refletir a respeito de como agiria frente ao dilema do estudante de Direito no julgamento, que na verdade se torna uma questão vital na história e para a vida de diversas pessoas: a escolha do personagem foi, afinal, uma escolha de amor? Daqueles filmes memoráveis, que já pertencem à história do cinema e que nos deixam por um bom tempo, após o seu final, com fortes e relevantes emoções. Netflix. 10,0

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CAMINHO DA TENTAÇÃO (PITFALL)

Um drama policial de 1948, ao estilo noir, em preto e branco, dirigido por Andre de Toth (que dirigiu Museu de cera em 3D, com Vincent Price, em 1953). Os protagonistas são Dick Powell, Jane Wyatt (o casal Forbes), Lizabeth Scott e Raymond Burr, mas na verdade os atores desempenham de forma regular apenas, apenas as atrizes convencendo, principalmente Jane Wyat, que claramente se posiciona acima dos demais (alguns anos antes ela havia sido destaque no filme Horizonte perdido e alguns anos depois faria sucesso por muitos anos na série de TV Papai sabe tudo). Um filme baseado em livro e que tem um roteiro que nada apresenta de extraordinário, girando em torno da eterna situação da vida familiar estável (com o casamento tradicional) estremecida ou perturbada pela tentação externa (que acabou sendo denominada de femme fatale e que aqui não é exacerbada), a qual naturalmente não tem apenas uma conexão. Na minha visão das coisas, é um filme supervalorizado: há uma certa atração pelo enredo, uma ou outra situação de interesse principalmente na parte final, mas é um filme apenas razoavelmente bem conduzido e que, no final das contas, pode ser considerado mediano ou pouco acima pelos bons momentos que apresenta. Porém nada memorável e na verdade faltam aqui emoções mais entrelaçadas e intensificadas, um desenvolvimento mais denso e envolvente, bem como um aprofundamento maior dos personagens. Como passatempo, aceitável, mas não merece a fama que parece ter. 7,7

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DREAM CENÁRIO

Um filme com uma história muito diferente, totalmente anticonvencional, cujo gênero é até difícil de definir, pois na verdade é um drama, mas tem alguns toques de humor, geralmente negro, de ficção científica (será?) e é algo que vai crescendo na densidade, assumindo caminhos imprevisíveis e chocantes, embora efetivamente criativos. Passa a ser, quem sabe, uma tragédia com senso de humor (e realmente há cenas para se rir do bizarro, como a do homem mais velho com a mocinha, bastando se ver o filme com olhares de humor negro). E poderá até mesmo causar tristeza em muitos espectadores mais sensíveis. Um filme de todo modo insólito, inteligente, que fala de pessoas, conflitos de gerações, problemas familiares e estruturais, enfocando os dias de hoje e as gerações atuais, além de, claro, o politicamente correto e os conceitos dominantes, que pelo que se vê de modo algum conseguiram superar o preconceito, causando – isso sim – uma alienação e uma solidão progressivamente maiores. Entre outras contingências. Nicolas Cage – que também é produtor – está quase irreconhecível fisicamente, mas talvez até por isso apresente uma grande performance, aprofundando um personagem que a princípio seria comum, porém vai se tornando complexo à medida em que os fatos ocorrem e diferentes ações são exigidas. Atua também à altura do papel Julianne Nicholson (Togo, Mare of Easttown, Ally McBeal). Algo instigante e que se vê com o prazer da descoberta, sem perder distância da perplexidade e até da indignação. Filme estilo “de arte”, para públicos especiais. 8,6

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MAESTRO

A britânica Carey Mulligan, hoje com 38 anos, já teve várias indicações a prêmios e participou com seu reconhecido talento de vários importantes filmes, como Doce vingança, Educação, Drive, A escavação e Longe deste insensato mundo. Entretanto, aqui ela é o elemento de grande destaque do filme e apresenta uma interpretação extraordinária, em cada difícil e dramático momento, desfilando os diversos sentimentos da personagem com rara maestria. Bradley Cooper, que também produziu e dirigiu muito bem, não fica muito atrás (dá conta com competência de um papel bastante complexo), mas ela é o brilho que emoldura o filme e dá a ele todo o sentido, em todos os momentos. Mas esse brilho não é suficiente para que o filme seja perfeito em seu desenvolvimento, em seu lado emocional e na resolução das reticências de suas etapas, muitas vezes fragmentadas sem a sutileza ou delicadeza adequadas. De todo modo, um roteiro forte, com vários instantes emocionantes – pela própria música ou por cenas de Mulligan ou do casal – biográfico do famoso e polêmico Leonard Bernstein, que era sobretudo maestro/arranjador, mas também músico (pianista) e compositor e que foi o primeiro maestro americano (nascido em Massachusetts) a obter um reconhecimento mundial de regência, sabido que até a década 40 todos os grandes maestros eram estrangeiros, geralmente alemães. Ficaram famosos seus grandes concertos, sua regência por longos anos da Filarmônica de Nova Iorque e serviu de paradigma para muitos, tendo influenciado e inspirado várias gerações. Como compositor, sua obra mais famosa foi a trilha do musical West side story. O filme tem momentos brilhantes e outros até inconsistentes ou um pouco enfadonhos, mas seu foco é a vida turbulenta do maestro, na profissão, socialmente, em família e principalmente seu relacionamento com Felícia, a atriz de origem chilena, interpretada por Mulligan. O filme deixa claro sobre quem foi o grande responsável pela grande parte dos conflitos na vida do maestro, vinculado à sua conduta social e particular, vital elemento de sua personalidade (não spoiler). Além de Cooper, poderosas figuras produziram o filme, como Spielberg, Scorsese e Todd Phillips. Em resumo: uma obra de algum fôlego, de maravilhosas fotografia (notadamente nas partes em preto e branco), produção, elenco, trilha, incrível maquiagem no rosto do compositor já mais velho, alguns belos momentos (a cena da Igreja, por exemplo), mas que poderia ser mais bem desenvolvido, mais bem editado e talvez causar emoções mais afinadas e profundas. Netflix. 8,6

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A VISITA

O nome do filme já diz tudo e essa visita se refere ao retorno à cidadezinha de uma antiga moradora, que agora está milionária, não sendo difícil deduzir que tal fato causa uma grande comoção. Mas não se sabe de início a razão de após tanto tempo ela desejar rever a “aldeia”, o que será desvendado em poucos minutos de filme e o motivo vai pautar dramaticamente toda a história, com muitos acontecimentos tensos e inesperados, alguns até de difícil controle. O filme fala de nostalgia, de paixão, de vingança, de ambição e principalmente do poder de compra do dinheiro e da manipulação das pessoas. Há uma ou outra inconsistência do roteiro, mas no geral o enredo é bem desenvolvido e bem intencionado, com a mensagem (com uma ou outra surpresa) superando a realização. Além do roteiro interessante, seu maior trunfo são os protagonistas: o aclamado Anthony Quinn e a sempre maravilhosa Ingrid Bergman, aqui em um papel bem diferente dos costumeiros. Ambos grandes astros e com a mesma idade de 49 anos, ela tendo sido protagonista de grandes filmes como Quando fala o coração (1945), Interlúdio (1946) e principalmente o inesquecível Casablanca (1942); ele, que no mesmo ano faria Zorba, o grego e alguns anos depois 25ª hora e As sandálias do pescador, já tinha muitas belas obras no currículo, como O corcunda de Notre Dame (1956). Este filme de 1964 é uma co-produção dos EUA, Itália, França e Alemanha, foi indicado ao Oscar de melhor figurino em preto e branco e Bernhard Wicki (O mais longo dos dias) a Melhor diretor em Cannes. A obra original em que o filme foi baseado se chama “A visita da velha senhorae é uma peça teatral alemã. Como curiosidade, contam que William Holden estava ansioso para contracenar com Ingrid Bergman (1915-1982), mas quando Anthony Quinn (1915-2001) comprou os direitos, acabou ele mesmo assumindo o personagem. 8,6

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SALTBURN

Estamos diante de um filme para adultos, denso, chocante, mas atraente e instigante, que faz um estudo extraordinário de personagens, rompe com as convenções e vai causar bastante polêmica, principalmente por algumas cenas fortes e até incomuns. Uma obra inteligente, sarcástica, imprevisível e que aborda vários temas – tendo como pano de fundo Oxford e a própria Saltburn, que dá nome ao filme -, como classes sociais, paixão, desejo, cobiça, obsessão, alienação, futilidades, ódio, inveja, ócio, destilando crítica social e não poupando o espectador das sombras visíveis e invisíveis da vida comum e da aristocrática. Na verdade o filme vale muito mais pelo que ele não mostra e que são suas camadas mais sinistras e perversas,em um drama bem construído, roteirizado e dirigido pela excelente Emerald Fennel, a mesma de Bela vingança com Carey Mulligan, que aqui também tem um papel, embora pequeno (a despeito de ser marcante pela sua extravagância). O restante do elenco, contudo, é também composto por “feras”, como Rosamund Pike e Richard E. Grant (que, no cartaz, está ligeiramente parecido com Christopher Walken), além dos ótimos protagonistas Jacob Elordi (Euphoria) e Barry Keoghan (Os Banshees de Inisherin). Fortíssimo no tema, provocante e causador de muitas sensações, inclusive inesperadas, principalmente em sua parte final, o filme é, por todos os motivos citados, recomendado a público especial (certamente adulto) e certamente desperta muitos debates em torno de seu valor artístico e das suas pungentes mensagens. Lançamento de final de ano (2023) da Prime. 8,8

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RÉQUIEM PARA UM SONHO (REQUIEM FOR A DREAM)

Tendo em mãos um tema delicado e complexo (o mundo dos viciados em drogas), o diretor Darren Aronofsky (Cisne negro, Mãe, A baleia) conseguiu transpor para a tela um dos filmes mais realistas, crus e assustadores que o cinema já viu. Não foi uma tarefa fácil pegar um roteiro, embora bem construído, e rechear a tela com o espetáculo que esse filme é. Embora doloroso e pungente. E também graças ao desempenho magistral do trio de protagonistas – Ellen Burstyn, Jennifer Connelly e Jared Leto e mais Marlon Wayans – e a uma trilha sonora forte e alucinante (o tema principal é a magnífica e épica Lux Aeterna, de Clint Mansell). Aliás, a trilha é simplesmente avassaladora, expondo á luz o interior tumultuado dos personagens e transmitindo sentimentos absolutamente poderosos, inclusive de destruição. O som e as imagens são muitíssimo bem utilizados de forma harmônica, com ângulos diversos da ousada câmera, centenas de cortes de cena, tela dividida, tudo para dar as sensações alucinógenas da realidade alterada e fazer o público mergulhar em um mundo que não lhe pertence. A história aqui contada não faz concessões e contempla com profundidade a busca da felicidade ilusória, mas que é praticamente sem retorno e desconstrói a humanidade das pessoas, retirando-lhes a identidade, o próprio rosto. O filme inclusive faz um paralelo muito interessante entre a velhice e a juventude, ambos os casos tendo como tema comum o próprio vício. E os limite insanos vão se repetindo e é um turbilhão que aprisiona cada vez mais. Vê-se, então, que o roteiro nada tem de cor-de-rosa e não é uma história de fácil digestão, obviamente não agradando todo tipo de público, principalmente aquele que procura filmes bonitos e de finais felizes. O filme aqui é horrível na realidade que retrata, mas nesse sentido pode muito bem servir como um libelo no combate a esse inimigo contemporâneo ou no mínimo servir como pesada advertência. E sua realização aproxima-se da obra de arte, porque sendo do ano 2000, ainda permanece intenso e vicejante como um dos filmes mais densos da história do cinema, entrando na alma do espectador e mostrando dramas psicológicos e físicos em uma transformação dura e frenética, escavando as entranhas dos personagens e explorando a degradação e o abismo, nas vertigens do desespero. Algo pungente e um trabalho de mestre, contado por meio das estações do ano, menos a primavera: e por razões óbvias não se consegue retirar do enredo o que seria a esperança, talvez o símbolo dessa estação. Direção, edição, fotografia, trilha e elenco, tudo brilha e Burstyn foi indicada a Melhor Atriz tanto no Oscar, quanto no Globo de Ouro, tendo ganho nessa categoria no Independent Spirit Awards de 2001. Esse prêmio também foi dado ao filme na categoria de Fotografia e Jennifer também foi uma das indicadas. A palavra “réquiem” vem do latim e significa “repouso ou descanso”, sendo comum no mundo da música significar aquela criada para cerimônias fúnebres ou então homenagear os mortos. Prime Vídeo. 9,5